Luís Carlos Peleira
Vimos ao longo destes 30 anos despontar o talento da Luísa Sobral, Salvador Sobral, Mimi Froes, Milhanas, Marta Pereira da Costa, Capitão Fausto, Ângelo Freire, Cristina Rogeiro, Manuel Oliveira, João Barbosa, Guilherme Marinho, Ana Roque e tantos, tantos outros que não é possível enunciá-los a todos.
Há 30 anos, um jovem professor de música começava a convidar, uns ainda mais jovens professores, para num antigo refeitório começar a realizar um sonho.
O sonho de uma escola de música diferente, uma escola que não exigia pré-requisitos, onde todos tinham lugar e direito a aprender a tocar e a cantar independentemente das suas capacidades, uma escola que, nas palavras do sonhador:
– “Respondesse às expectativas dos tradicionalmente dotados, dos que o são à sua maneira e daqueles que podem não parecer à partida…
que olhasse para o potencial artístico que cada aluno transporta consigo.”
Numa tarde do mês de Maio em 1994, entrei pela primeira vez nas Oficinas de São José e aceitei com entusiasmo esse convite. Dessa tarde, uma frase ficou-me na memória até hoje: “esta escola será o que nós quisermos que seja.”
Os Salesianos, filhos de um sonhador, acreditaram neste sonho desde o início, tornando possível o crescimento do Musicentro até aos dias de hoje, acreditando neste projeto e dando sempre condições para o mesmo se afirmar.
Para quem só conhece a nossa escola de música dos dias de hoje, dificilmente imagina, no espaço do antigo refeitório, quatro salas com paredes de madeira. Mas foi assim o início desta “escola de artistas”, como a chamou o nosso administrador. Artistas que levaram muito de nós, mas deixaram também cá, muito de si.
Vimos ao longo destes 30 anos despontar o talento da Luísa Sobral, Salvador Sobral, Mimi Froes, Milhanas, Marta Pereira da Costa, Capitão Fausto, Ângelo Freire, Cristina Rogeiro, Manuel Oliveira, João Barbosa, Guilherme Marinho, Ana Roque e tantos, tantos outros que não é possível enunciá-los a todos.
Este sucesso que nos orgulha e que foi tornando o Musicentro de Lisboa, numa “escola de escolas”, não é um segredo e também não é por acaso.
“Por trás de um grande artista há sempre um grande artista”, este “segredo” revelado por David Hockney, quando se refere à relação entre o aluno e o discípulo, entre o mestre e o aprendiz, ajuda a perceber a importância dos professores do Musicentro na formação dos alunos. Os muitos mestres que passaram pela nossa escola de música contribuíram no concretizar deste sonho e para a formação destes artistas, a todos devemos estar agradecidos.
O corpo docente atual do Musicentro conta, ainda hoje, com alguns desses “jovens” de 1994 e, alguns dos aprendizes do passado, são agora mestres. Nesta relação mestre e aprendiz, reside este tal “segredo” mal guardado; para o revelar basta passear em qualquer dia da semana, pelo corredor da nossa escola de música.
Naquela tarde de Maio de 1994, fui por acaso às Oficinas de São José, por acaso falei com o jovem professor José Morais, mas não foi por acaso que aceitei o convite e ainda bem, depois de 30 anos de existência, continuamos a avançar neste sonho que nos faz sonhar, todos os dias.
Celebramos no próximo ano letivo, 30 anos de existência do Musicentro de Lisboa e tenho a certeza de que continuaremos a ouvir a música dos jovens com os ouvidos, mas também com o coração e a encher o nosso colégio de muita música pois, “uma escola salesiana sem música é como um corpo sem alma” e os nossos professores e alunos, têm com toda a certeza uma alma grande!
“…o mestre é o homem que aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor — eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor do próximo.” – Agostinho da Silva.
Luís Carlos Peleira – Diretor Musicentro de Lisboa