“Eu confio em si”

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seara-14-confioEla não sabe o meu nome, nem eu sei o dela.
Ela não me conhece e eu vi-a hoje, terça-feira, pela primeira vez quando entrei na loja onde é funcionária.

A doença da minha mãe tem-lhe retirado forças e, quando deitada na cama, tem sentido dificuldade em se virar para mudar de posição. Resolvi procurar uma espécie de capa de colchão ou algo parecido, que conferisse um pouco mais de firmeza e lhe permitisse maior mobilidade.  Entrei numa loja da especialidade e expliquei ao que ia. 

Após observar algumas hipóteses e chegarmos à conclusão de que só resolveria o problema com a compra de um outro colchão, indaguei sobre as características de um acessório, exposto logo à entrada da loja, cuja funcionalidade é a de aquecer o colchão. Perante o meu interesse e na dúvida se este acessório iria ao encontro do que eu pretendia, aquela desconhecida quis saber se eu morava perto. Disse-lhe que não, viver não vivia, mas trabalhava ali perto. A resposta veio tão disponível:

– Então, leve-o e a sua mãe experimenta-o. Traz-mo amanhã, se não servir.
– Quanto devo, assim?
– Não, não é preciso pagar. Eu confio em si. Volte amanhã.

Apertou-me a mão e deu-me o saco com a manta aquecedora lá dentro. Respondi um “Obrigada” profundamente sentido.

Ela não sabe o meu nome, nem eu sei o dela. Ela não me conhece e eu vi-a hoje, terça-feira, pela primeira vez, quando entrei na loja onde é funcionária.
Mas, ela, hoje, foi a mão de Deus que me deu colo!

Zélia Ferreirim | Professora