“Foi, por todos os títulos uma festa encantadora”

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Frederico Pimenta

Duas referências extrapolam do corpo textual do Boletim Salesiano de março/abril de 1931. A primeira, em relação à figura de S. Francisco de Sales, “No dia 29 Janeiro, festejou-se S. Francisco de Sales, Doutôr da Igreja e Padroeiro dos Jornalistas Católicos”, e a segunda, relativamente à figura de Santo António, “Com o dia primeiro de Janeiro, entrámos no anno em que se há de comemorar o sétimo centenário da morte do glorioso português, Santo António de Lisboa”.

Linhas convergentes


Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

1931 – A divícia de um carisma (1)

No Órgão dos Cooperadores Salesianos, em 1931, (2) o Pe. Felipe Rinaldi partilhou os desenvolvimentos e as dificuldades sentidas pelos continuadores de D. Bosco nas diferentes geografias onde a sua ação se desenvolvia. Salientou, por um lado, a confiança expressa pelo Papa Pio XI ao colocar sob a responsabilidade dos Salesianos as catacumbas de S. Calixto, portentoso documento histórico da igreja primitiva, assunto que retomaremos mais adiante neste texto, e, por outro lado, a morte selvática, na China, dos padres Luís Versiglia e Calisto Caravario, concluindo com a ideia da necessidade do apoio de beneméritos para a continuação dos projetos salesianos.  Ainda neste Boletim (3) surge a notícia, do final do ano de 1930, do deslumbre pelos 107 novos missionários e 54 Irmãs das Filhas de Maria Auxiliadora que, no Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora de Turim, celebraram o momento da partida para diferentes geografias e etnologias. “Na falange missionária do anno 1930, como sempre, formavam religiosos de toda a idade. Homens maduros de venerandas barbas, desejosos de levar ás Missões, um contingente de doutrina e experiencia(…)”. (4)  Desses lugares longínquos chegaram, e no Boletim Salesiano (5) encontraram suporte para a sua divulgação neste ano, textos evocando O cincoentenario da Missão Salesiana da Patagonia, A Obra Salesiana no Estado do Espirito Santo, Prefeitura Apostólica de Assam Shillong (India) – O Oratorio Festivo e S. Paulo (Brasil) – Oratorio Festivo de Cruzeiro. É, portanto, este primeiro número do Boletim Salesiano de 1931 uma trova ao espírito missionário do carisma salesiano que se repete nas publicações anteriores e ulteriores.

Duas referências extrapolam do corpo textual do Boletim Salesiano de março/abril de 1931. A primeira, em relação à figura de S. Francisco de Sales, “No dia 29 Janeiro, festejou-se S. Francisco de Sales, Doutôr da Igreja e Padroeiro dos Jornalistas Católicos”, (6) e a segunda, relativamente à figura de Santo António, “Com o dia primeiro de Janeiro, entrámos no anno em que se há de comemorar o sétimo centenário da morte do glorioso português, Santo António de Lisboa”. (7) Do primeiro se afirma: “Tres séculos são volvidos sobre a morte deste homem de génio e a sua obra é sempre actual, porque soube guiar-se sempre pelo culto da Verdade (…)”; (8) e do segundo: “(…) ao homem extraordinário e egrégio santo, que foi essa figura máxima do século décimo terceiro”. (9) Sobre este último, no número de julho/agosto, publicou-se a Carta apostólica de S. S. o Papa Pio XI ao bispo de Pádua, redigida a 1 de março de 1931, em Roma, sob os títulos As celebrações comemorativas, A grandeza do Santo, Uma vida de virtude, Modelo luminoso, O apóstolo da Verdade, O segredo da eloquência de Santo António, Os prodígios de Deus, O ensinamento admirável e Os votos paternais. Igualmente, como veremos mais adiante, esta personalidade é novamente referenciada.

Proveniente das Oficinas de S. José, o Boletim Salesiano de março/abril informa sobre as Festas da Imaculada Conceição, S. Francisco de Sales e festa infantil. Na contextualização dos três momentos, verificamos que a primeira, realizada no dia 8 de dezembro de 1930, se deve à celebração do 39.º aniversário do estabelecimento da Obra Salesiana em Portugal e de acordo com as palavras do Pe. José Maria Alves “(…) o progresso constante das Oficinas de S.  José, e a sua acção largamente educadora, que tantos beneficios tem prestado, aos filhos das classes pobres”. (10) A segunda celebrou o Padroeiro da Sociedade Salesiana S. Francisco de Sales, constando de momentos religiosos e recreativos, sobressaindo a missa celebrada pelo Diretor das Oficinas de S. José, Pe. Pedro Rota, que referiremos mais adiante. Por fim, a terceira consistiu na realização, no Grémio Literário, de uma festa de caridade, “(…) contribuindo generosamente com a sua quota para a modelar instituição das Oficinas de S. José (…)”.(11)

Já nas páginas de maio/junho do Boletim Salesiano de 1931, somos levados à cidade do Porto, concretamente à Oficina de S. José, na festa do seu Padroeiro. A estrutura da festa obedeceu aos tradicionais momentos religiosos e recreativos, recebendo, por inscrição do Governador do Distrito no Livro dos visitantes, “As minhas homenagens á Direcção deste modelar estabelecimento que tanto bem prodigaliza, educando tão grande numero de internados e transformando-os assim em elementos úteis ao Paiz e á Sociedade”. (12) Ainda na cidade do Porto, remata esta publicação a notícia do falecimento da irmã do fundador da Oficina de S. José, Pe. Sebastião Leite de Vasconcelos, (13) aqui apontada. Era D. Francisca Leite de Vasconcelos, “Senhora dotada das mais belas virtudes, colaborou com o seu venerando irmão nessa bela obra de caridade que é a Oficina de S. José (…)”. (14) 

Folheando o número de julho/agosto do Boletim Salesiano, vemos brotar as indicações sobre a preparação do jubileu Sacerdotal do Pe Rinaldi, a celebração do 40.º aniversário da encíclica Rerum Novarum  e a publicação da Quadraginta Annis do Papa Pio XI, uma súmula sobre Madre Maria Mazzarello e a formulação do anseio da sua beatificação. Conclui este Boletim com uma referência à paróquia portuguesa de Oackland, Califórnia, e a realização de um “Entretenimento dramático-musical, em beneficio da igreja portuguêsa”. (15)

Entrados nas deambulações noticiadas na publicação de setembro/outubro somos confrontados novamente, e com agrado, pela figura de Santo António de Lisboa e as catacumbas de S. Calisto, em Roma. Da primeira, testemunha-se que “Todos os comentadores o exaltam e engrandecem, parecendo faltar-lhes os termos quando querem tecer-lhe os mais belos encómios”; (16) na segunda, somos introduzidos no documento através de cinco títulos capitulares: O primeiro cemitério dos Papas, A Capela dos Papas, A cripta de Santa Cecília, A capela dos Sacramentos e outras tumbas insignes, A tumba de S. Tarcísio. “Este artigo de Mons. Julio Belvederi, dirá aos nossos cooperadores, alguma cousa do que guardam essas tumbas subterraneas(…)”. (17) Das Oficinas de S. José de Lisboa chegaram ecos da festa de encerramento do ano letivo que incluiu a celebração de missa, a distribuição de prémios e a visita à exposição de trabalhos escolares, acompanhada pelo Pe. Semplici, robustecida pelos seus dotes de artista plástico e de arquitetura.  Referem-se ainda novas festas, agora centradas na cidade do Porto, a primeira concretamente, na Oficina de S. José, anotando-se, no dia 26 de abril, a celebração de reconhecimento a D. Bosco e, nela, a presença e discurso do “Conégo Dr. Antonio Joaquim Pereira, o único sobrevivente, talvez em toda a cidade, que tenha tido a ventura de vêr e falar com D. Bosco”. (18)

Na publicação do Boletim Salesiano referido anteriormente, sobressaíram dois excertos da comunicação social coeva, O Comércio do Porto, de 27 de maio de 1931, e A Defesa, de Évora, relativos, respetivamente, às casas salesianas do Porto e Évora. O primeiro elenca a festa de Maria Auxiliadora com a parte religiosa e a recreativa sob os auspícios do Diretor, P. Luís Maria Mafini, “Foi, por todos os títulos uma festa encantadora”. (19) Relativamente a Évora, e após descrição do trabalho desenvolvido pela comunidade salesiana local, afirma-se “No domingo 5 de junho realizou-se uma festa solene no Oratorio Festivo de S. José em honra de Nossa Senhora Auxiliadora e do Bem. D. Bosco”. (20) Composta igualmente de duas partes, a religiosa e a recreativa, sob a orientação do Diretor, Pe. José da Silva Lucas, relata-se “Terminou a festa com alguns exercicios de gimnastica e um desafio de pedibola entre as «equipes» da 3ª e 4ª classes do Colégio”.  (21)

No final deste número e remetendo para o seguinte, dá-se uma nota de falecimento: “Já estava composto este «Boletim Salesiano» quando recebemos a noticia do falecimento do Revmo. P. Pedro Rota, Director do Colegio de Lisboa e Visitador das casas Salesianas de Portugal”. (22) Sobre esta personalidade inaudita já nos referimos em artigo anterior. Efetivamente, a publicação de novembro/dezembro apresenta a sua carta mortuária num gritante apelo, afirmando que “A vida, as virtudes, os exemplos deste dignissimo salesiano não devem cair no esquecimento”. (23)

Nesta última publicação de 1931, a par das saudações natalícias e de Ano Novo pelo Pe. Felipe Rinaldi, descreveram-se exaustivamente os diferentes momentos e os principais oradores do primeiro Congresso Missionário Nacional, realizado em Barcelos: “Terminaram as imponentes cerimónias com a bénção do Santíssimo – chave de oiro deste memorável Congresso”. (24)

Na conclusão deste périplo pelo ano de 1931, surgem, além dos textos, elucidativos documentos fotográficos sobre uma visita realizada a Setúbal pelos alunos das Oficinas de José e sobre a Festa dos Antigos Alunos, no dia 19 de julho, incluída nas celebrações do Sagrado Coração de Jesus e de S. Luís Gonzaga.


  1. Todas as transcrições inclusas neste texto respeitam as normas de ortografia em vigor aquando da sua redação primitiva.
  2. Todas as transcrições foram retiradas dos seis números publicados no ano de 1931, respetivamente janeiro/fevereiro; março/abril; maio/junho; julho/agosto; setembro/outubro e novembro/dezembro.
  3. Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVIII, Janeiro-Fevereiro, Número 1, 1931.
  4. Ibidem.
  5. Ibid.
  6. Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVIII, Março-Abril, Número 2, 1931.
  7. Ibidem.
  8. Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVIII, Março-Abril, Número 2, 1931.
  9. Ibidem.
  10. Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVIII, Março-Abril, Número 2, 1931.
  11. Ibidem.
  12. Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVIII,Maio-Junho, Número 3, 1931.
  13. Em artigo anterior já abordámos a vida e obra desta primordial personalidade tão intimamente ligada à História dos Salesianos, em Portugal. 
  14. Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVIII, Maio-Junho, Número 3, 1931.
  15. Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVIII, Julho-Agosto, Número 4, 1931.
  16. Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVIII, Setembro-Outubro, Número 5, 1931.
  17. Ibidem.
  18. Ibid.
  19. Ibid.
  20. Ibid.
  21. Ibid.
  22. Ibid.
  23. Ibid.
  24. Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVIII, Novembro-Dezembro, Número 6, 1931.