“Vários fatores são determinantes para o sucesso escolar. O número de alunos por turma não é um deles. Investigação portuguesa, ainda em curso, sugere que aspetos relacionados com a composição da turma acabam por ter mais influência nos resultados dos alunos do que o tamanho.”
Há características ao nível da composição das turmas que produzem efeitos no sucesso escolar. Fatores relacionados com o aluno e a sua família continuam a ser os mais importantes. Mas o que importa mais ao nível da turma? Olhando para a dimensão da turma, mas também para a sua composição – através de indicadores relacionados com os alunos, como a idade, o sexo, o escalão de apoios sociais escolares, o acesso a Internet em casa – “o efeito do tamanho da turma não é significativo, enquanto os outros fatores que têm a ver com a própria composição da turma acabam por ter mais influência relativamente ao seu tamanho”.
É o que sustenta uma investigação apresentada no Fórum Estatístico, da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. Nela reproduzem-se os resultados obtidos com uma análise original de dados relativos aos alunos que no ano letivo de 2011/2012 frequentavam o 6.º e 9.º anos em escolas públicas, como explica ao EDULOG um dos seus autores, Luís Nunes, investigador da Nova School of Business and Economics, Universidade Nova de Lisboa.
Importa menos o tamanho
Quando as escolas escolhem o modo como agrupam a população estudantil há certas combinações que produzem efeitos positivos ou negativos sobre o desempenho escolar. São estes aspetos que, à luz desta investigação, devem ser tidos em conta. Exemplo? É melhor separar os alunos que já reprovaram dos que ainda não. Porque quanto mais homogénea for a idade dos alunos, até mesmo próxima da idade de referência para determinado nível de escolaridade, mais vantajoso será para todos. Rapazes e raparigas beneficiam do facto de estarem em turmas mistas. E os alunos mais carenciados obtêm melhores resultados quando estão dispersos equitativamente por todas as turmas.
É a primeira vez que em Portugal se realiza um estudo deste género. Os investigadores utilizaram informações que já existiam nas bases de dados do Ministério da Educação – sobre o tamanho das turmas, os resultados obtidos nos exames nacionais de Português e Matemática de todos os alunos que em 2011/2012 frequentavam o 6.º e o 9.º anos. Depois, cruzaram essa informação com vários aspetos ligados à turma, a idade e o sexo dos alunos, o rendimento dos seus agregados familiares e o acesso à Internet em casa. O objetivo: perceber até que ponto todas estas variáveis, em conjunto, explicavam mais ou menos o sucesso escolar e em que sentido (positivo ou negativo) produziam efeitos?
Uma das conclusões do estudo mostra que aumentar o número de alunos com a mesma ou abaixo da idade de referência para um determinado nível de escolaridade tem um efeito positivo entre estes alunos, mas prejudica os que são mais velhos. O cruzamento de dados levou ainda os investigadores a concluir que o tamanho da turma não apresenta impacto significativo nos resultados. Mas em termos de género, uma composição desequilibrada entre sexos, prejudica o desempenho dos rapazes a Português.
O facto de não ter sido encontrado nenhum efeito no tamanho da turma não surpreendeu a equipa de investigadores, como explica Luís Nunes: “Estes resultados acabam por ser parecidos com outros realizados com dimensões de turmas parecidas.” Recorde-se que, em Portugal no 6.º e 9.º ano os dados utilizados apontavam para uma dimensão média da turma de 22 a 23 alunos. Estudos como este, realizados noutros países, têm mostrado que o impacto da dimensão da turma é maior para idades mais pequenas. “Quanto mais novos forem os alunos mais importância tem o tamanho da turma. Mas aqui já estamos a falar de alunos do 6.º e do 9.º ano em que o impacto da turma já não é tão importante”, sublinha Luís Nunes.
Além disso, acrescenta o investigador, quando os estudos encontram um impacto do tamanho da turma no sucesso escolar dos alunos é sempre em casos de grande escala. “Há um estudo no Quénia em que se compara o que acontece quando se passa de turmas de 80 alunos para 40 alunos. São variações muito extremas e, nesses casos, encontram-se resultados muito grandes.”
No entanto, esclarece o investigador, “para outros estudos de dimensões parecidas com o tamanho de turma que temos em Portugal – entre os 15 e os 28 alunos – os resultados que se encontram são muito pequenos ou nenhuns”. Dito de outro modo, “só abaixo de 20 ou menos alunos é que se encontram alguns resultados com as reduções, mas para turmas muito mais pequenas”. Os resultados obtidos pela equipa da Nova School of Business and Economics dão outro sentido à discussão sobre a necessidade de reduzir o tamanho das turmas. “No fundo o que isto diz é que para o tamanho de turmas que está a ser discutido em Portugal, há outros fatores nas escolas – não tão estudados – que acabam por ter alguma influência”, conclui Luís Nunes.
Qual a composição de turma ideal para que todos os alunos possam ter sucesso? Será talvez a pergunta que os diretores de escola gostariam de ver respondida. “Não há uma receita que seja única para todas as escolas”, constata Luís Nunes. Lembrando que nas escolas existem outras ferramentas promotoras do sucesso escolar, como a própria formação dos professores, o investigador garante: “A composição das turmas é apenas mais uma ferramenta, mas é também a menos estudada e, por isso mesmo, vale a pena ser tomada em atenção.”
por EDULOG | 2017