Alguns alunos provam-nos, constantemente, que, mesmo voando para fora do nosso jardim, sabem o caminho de regresso e que aqui, muitas vezes, continuam a procurar colo.
Alguns alunos provam-nos, constantemente, que ser professor é uma aprendizagem diária e permanente que acontece, muitas vezes, fora das paredes da sala de aula.
Alguns alunos provam-nos, constantemente, que o lema de Dom Bosco será sempre atual, que a educação é mesmo um assunto do coração.
Assim, o meu coração diz-me que (uma parte d)esta história tem de ser partilhada.
O nosso antigo aluno João Reis sofreu um grave acidente no dia 25 de janeiro de 2018, dia em que terminava o primeiro semestre do seu primeiro ano de faculdade. A notícia do acidente fez-nos chorar, rezar e pedir a Nossa Senhora que o acompanhasse na luta que travava, que consolasse, de alguma forma, a família e que confortasse o coração dos amigos que o apoiaram desde o primeiro minuto.
Ao longo de meses, trocaram-se, por mensagem ou pessoalmente, muitas ansiedades e angústias, algumas lágrimas e vários silêncios, assim como novidades do estado do João, quando as havia. Se algo esteve sempre e bem presente, foi a fé, a crença no poder da oração, que uniu, em diferentes locais e dias, tantos amigos e familiares, que permitiu a cada um acreditar que Deus tinha um plano para o João (como tem para cada um de nós).
Com a autorização do nosso antigo aluno João Reis, deixo-vos um excerto de um texto que ele escreveu intitulado “Frente a frente com a vida”, a pedido da médica que acompanha o seu caso.
A ti, João, obrigada pela lição e… cá esperamos os teus “putos”!
Ana David | Professora
A lição
A recuperação continua, a luta não acabou nem nunca acabará. Nunca me encontraram encostado a descansar com o que já alcancei. Não, a luta continua. Por vezes pergunto-me: Se soubesses que isto ia acontecer, tinhas saído de casa naquela noite, terias ido aquela discoteca, tinhas saído aquelas horas? Sim. A resposta é e sempre será um claro e vibrante sim. O que ganhei de valores, de amizades e relações fortalecidas, não há nada que possa oferecer algo semelhante. Foi a minha melhor luta. Um adversário deste calibre destapa o melhor que há em nós, revela-nos o conteúdo de que somos feitos, “destrói-se o velho para abrir lugar para o novo”. Houve momentos em que pensei que tinha alcançado o meu limite, a meta da minha maratona. Contudo, descobri que conseguia dar mais 1, ou 2, ou 3 passos, ou correr outra vez a maratona. Quando se está cara a cara com a morte, todas as distrações se dissipam, aquele trabalho que nos chateia, aquilo que devíamos ter dito de outra maneira, tudo é levado com o vento; e tudo o que há de bom, os amigos, a família, as boas ações que fizemos, as boas aventuras, tudo brilha, e forte como uma montanha, resiste ao vento. Foi o começo perfeito para a travessia. Que a vida me dê mais aventuras…
João Reis | antigo aluno