| Lentes de quem ama |

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seara_22_01Por vezes quase sinto vergonha de ser adulto, por me ter tornado tão pequenino perante a grandeza de uma criança. Junto à palavra criança, a palavra adulto revela-se pobre. Talvez porque na criança mora o essencial e no adulto demasiado acessório. Talvez porque a criança olha e admira o mundo enquanto o adulto tem tendência para se olhar e admirar a si próprio. Esta realidade, que incomoda, ganha de repente uma beleza imensa, se às crianças chamarmos filhos e aos adultos chamarmos pais. 

Junto à palavra filho, a palavra pai revela-se ainda maior. Talvez resida aqui o grande segredo para uma educação saudável de todos e de cada um, no ambiente escolar. À frente dos olhos do educador deverão estar as lentes do coração. As lentes de pai. As lentes de bem-querer. As lentes de quem ama. “Os nossos pais amam-nos porque somos seus filhos, é um facto inalterável. Nos momentos de sucesso, isso pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não se encontram em qualquer outro lugar.” (Bertrand Russell in Machado, 2011: 78). 

J. Morais