“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce “
Cerimónia de entrega dos prémios de Valor e Excelência
Salesianos de Lisboa, 12 de outubro de 2019
Caros alunos premiados,
Estimados Pais, Encarregados de Educação e outros familiares,
Apreciados Educadores desta Escola Salesiana
Sejam todos muito bem-vindos a esta solene cerimónia de entrega dos prémios de Valor e Excelência dos Salesianos de Lisboa, neste magnífico espaço, nesta nossa e vossa casa. Bem-vindos!
Entre as muitas frases de beleza e profundidade que nos oferece Fernando Pessoa, gostaria hoje de iniciar esta minha saudação citando uma delas, colocada no início do poema “Mar Português” e que reza assim: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Parece-me que esta frase, escrita para lembrar a epopeia gloriosa dos Descobrimentos, se enquadra perfeitamente nesta outra epopeia cuja celebração aqui nos convoca.
Celebramos hoje a entrega dos prémios de valor e excelência. Uma grande epopeia, não só pela complexidade desta mesma organização, mas sobretudo pelo que estes trofeus significam de batalhas travadas, de dificuldades vencidas, de problemas superados ao longo do ano letivo transato, alguns deles tão grandes como o “mostrengo que está no fim do mar” no dizer do mesmo poema citado.
Esta é sem dúvida uma obra do Homem. Uma obra sonhada por cada um de vós, alunos premiados. Quantas horas de dedicação e empenho, quantos trabalhos e esforços, quanta determinação e vontade, quanta criatividade e esmero.
E como não pensar que aquilo que estamos aqui a celebrar não é senão o desejo de Deus? Aquele desejo que Ele com amorosa bondade semeou no coração de cada um de vós? Não fosse Ele o Deus da beleza e da criação que inspirara todo o bem e a verdade. Foi Ele que nos criou à Sua imagem e semelhança. É Ele o pano de fundo do nosso existir. É n’Ele que vivemos, nos movemos e existimos (At 17, 28) como o referiu com clareza São Paulo.
E chegamos assim à esta magnífica obra. Eis o fruto do sonho de Deus e da dedicação do Homem, não só circunscrito aos resultados académicos e competências exteriores, mas sobretudo referente à obra grandiosa da construção de pessoas cada vez mais conformes ao projeto sonhado por Deus, pessoas felizes que se transformaram em boa terra para dar abundante fruto.
Deus quis, vós sonhastes, a obra nasceu! Parabéns!
Neste contexto, gostaria ainda de fazer referência ao último Sínodo dos Bispos da Igreja Católica dedicado aos jovens. Entre os seus muitos frutos está o da sinodalidade. Também este conceito expressa muito daquilo que aqui estamos a celebrar.
A sinodalidade põe de manifesto o compromisso de “caminhar com os jovens, indo ao encontro de todos para testemunhar o amor de Deus” (DF 118).
A sinodalidade exprime o carácter de sujeito ativo de todos os batizados, respeitando o papel específico de cada um, jovens e adultos, sacerdotes e leigos, na construção da comunhão (cf. DF 119).
A sinodalidade valoriza a enorme riqueza que existe na diversidade dos carismas na Igreja, num estilo de vida caraterizado pela escuta e o diálogo entre as várias gerações (cf. DF 120).
Falar de sinodalidade neste nosso contexto celebrativo é colocar de manifesto duas realidades fundamentais.
• Antes de mais, é apelar à maravilhosa realidade que é cada um de nós, com as preciosas dádivas individuais com que Deus nos dotou.
• Por outro lado, é colocar em evidência a nossa dimensão social e apelar à contribuição de tantas outras pessoas que foram decisivas para que a nossa presença, hoje aqui, fosse um facto. Pais, educadores, colegas… são também os seus rostos, aqueles que estes troféus refletem. Eles foram companheiros de caminho, motores de motivação, estrelas polares na orientação do nosso caminhar, portos de abrigo seguros nas tempestades.
Falar de sinodalidade é declarar com toda a intensidade que os talentos de cada um, só têm sentido quando colocados na constelação dos dons de todos os outros, onde não são os meus que brilham mais que os teus, mas que todos juntos damos origem a uma luz resplandecente. Os prémios que hoje recebereis colocam de manifesto o vosso valor e excelência, mas também a verdade de uma comunidade educativa que favorece o vosso crescimento integral e que em vez de ofuscar os vossos dons pessoais, os evidencia de forma harmoniosa na constelação comunitária.
Invocar hoje o conceito de sinodalidade é trazer à nossa mente, mas sobretudo ao nosso coração, que na aventura da construção da nossa felicidade precisamos de todos. Necessitamos da mão dos outros, do coração dos outros, da proximidade dos outros, da amizade dos outros, por vezes até da correção bondosa dos outros. Precisamos não só da harmonia dos iguais, mas da variedade dos diferentes. É o grande valor da diversidade na educação que por vezes se apresenta como um obstáculo, mas que está chamado a ser elemento de grande riqueza.
A sinodalidade não apaga a luz, a cor, o brilho, a excelência de cada um de vós mas realça-a no seu conjunto, responsabiliza-a no bem comum, projeta-a para novos horizontes. Se estes prémios são obra vossa, fruto do vosso sonho e dedicação, constituem igualmente sinais de responsabilidade pessoal e comunitária para o dia de amanhã, compromisso claro no serdes sementes de bem, de beleza e verdade no nosso mundo.
Como dizia Jesus, não se acende uma lâmpada para a colocar debaixo de uma vasilha, nem se esconde uma cidade situada no alto do monte. Brilhe a vossa luz diante de todos para que vendo as nossas boas obras, louvem a Deus, nosso Pai. (cf. Mt 5, 14-16).
Estimados alunos e alunas premiados! Ao mesmo tempo que vos damos os parabéns pela obra que realizastes, agradeço a quantos convosco partilharam a vida e vos ajudaram a crescer e a caminhar. Peço-vos, se me permitis, que a alegria que hoje sentis possa ser motivo de contágio no mundo que habitais, na família, com os amigos, aqui na escola, na Igreja… Uma alegria contagiante pela vossa vida, pelos vossos valores, pelas vossas atitudes, pela forma excelente de fazer e de vos comprometerdes, como membros de pleno direito na sociedade e na Igreja como honestos cidadãos e bons cristãos.
Parabéns a todos! Obrigado pelo vosso testemunho de vida, de juventude e beleza. A vós, às vossas famílias e educadores, Deus a todos continue a inspirar e abençoar
Lisboa, 12 de outubro de 2019
Pe. João Chaves | Diretor