SALESIANOS DE LISBOA | CERIMÓNIA DE ENTREGA DE PRÉMIOS 12.10.2018
Sr. Padre João Chaves, Dir. dos Salesianos de Lisboa
Dr. Orlando Camacho
Prezados Salesianos aqui presentes
Estimados educadores
Queridos alunos e familiares
Bom dia. Que bom estar aqui! Que bom sentir, pelas melhores razões, o bater dos corações que povoam este espaço, também ele vestido a rigor, para vos receber com dignidade e também com algum orgulho, em dose saudável, creio.
Que bom podermos abraçar nesta casa de D. Bosco as pessoas, os alunos, os filhos, que conscientemente não passam apenas pela escola, mas que a vivem intensamente e se deixam tocar por ela. Pessoas que se recusam simplesmente a ver, mas decidem intervir. Pessoas que não enterram os talentos que Deus lhes deu, mas têm a coragem e a sabedoria para os rentabilizar. Pessoas que decidem e sabem ser elas próprias. Pessoas que acreditam que depende delas a construção de um mundo que todos desejamos melhor.
Um velho índio estava serenamente sentado ao lado do seu neto e dizia-lhe:
– Sinto-me como se tivesse dois lobos a lutar no meu coração. Um lobo é irritado, preguiçoso, violento e vingativo. O outro é amável, trabalhador e compassivo.
O neto perguntou-lhe:
– Avô, diga-me qual dos dois lobos ganhará a luta no seu coração.
O avô respondeu:
– Meu jovem, ganhará aquele lobo que eu decidir alimentar.
Queridos alunos, parabéns! Se estão hoje aqui, é porque decidiram alimentar o lobo amável, trabalhador e compassivo que mora no vosso coração.
Permitam-me evocar Fernando Pessoa, numa passagem que me parece particularmente oportuna, considerando o contexto onde nos encontramos: «Está aqui um rapaz Ricardo Reis que há de gostar de conhecer: ele é muito diferente de si». E depois acrescentou, «tudo é diferente de nós, e por isso é que tudo existe».
Uma escola é um mundo imenso de diversidade, um mundo de diferenças que só poderão ser tratadas com singularidade e propriedade.
O ser humano, que se reconhece incompleto, acaba por descobrir que o seu inacabamento sendo, por um lado, uma lacuna, constitui, por outro lado, uma grande oportunidade, pelo mundo de possíveis que oferece e que abre. Por isso mesmo, cada pessoa é quem é, mas também quem ainda não é, e pode vir a ser. Significa então que essa pessoa é um mundo aberto à novidade, mercê da consciência que a orna sobremaneira, da liberdade que a tipifica e da sua capacidade de se transcender vezes sem conta.
Acredito numa escola que aposta no potencial de cada um, mas uma escola que ativa os dispositivos da compreensão, capaz de nos unir e de nos libertar.
Acredito numa escola que é capaz de incluir e de responder às diferenças através de múltiplas formas, fugindo à cegueira burocrática da insensibilidade e da uniformidade. Fugindo à estandardização e à uniformização dos espaços, dos tempos, mas também dos alunos, dos professores e dos saberes.
Acredito numa escola que promove relações de proximidade, de conhecimento e de reconhecimento. Uma escola capaz de escutar as vozes e os silêncios de todos, mas sobretudo dos mais frágeis. Uma escola que promove a aprendizagem de todos, incluindo aqueles que pensam que não querem aprender (J. M. Alves).
Mas antes do aluno está a pessoa. A pessoa toda. Nas suas várias dimensões. As escolas que desprezam ou colocam em segundo lugar esta preocupação arriscam-se a formar coxos. Ancorado em Reboul, a educação integra a ideia da formação global do homem, da qual as formações especializadas e o próprio ensino são apenas partes. De facto, só nos é legítimo falar de educação, se tomarmos o termo no seu sentido integral, porque mutilá-la, é mutilar o homem.
Queridos alunos premiados
No final do ano letivo passado partilhei um pensamento com os finalistas do 12º ano, que achei por bem convocar de novo para esta manhã.
Em 1547, numa carta dirigida a Benedetto Varchi, Miguel Ângelo descreveu assim o processo de escultura: “Vi um anjo na pedra e decidi esculpir até o conseguir libertar.”
Para Miguel Ângelo, a escultura era um processo em que o artista simplesmente permite que uma figura se liberte do bloco de pedra onde jaz adormecida. O escultor apenas tem de retirar para que o essencial se revele, sem o beliscar.
Todos nós possuímos essas formas ideais no nosso interior – as nossas qualidades únicas. A nossa tarefa é encontrar maneira de esculpir a vida de modo a libertar as nossas características únicas”. (Gino, F., 2019:221) Reconhecendo-as e valorizando-as.
Agrada-me muito esta ideia da educação como arte; uma prática que, perante uma imensidão de possibilidades, dá forma ao homem.
Agrada-me pensar que a escola, de alguma forma, é ou deveria ser, as mãos sábias e prudentes do escultor, com esta nobre função de libertar, de fazer emergir de forma harmoniosa, as características únicas de cada ser humano.
“se eu sou diferente de ti, longe de te usar”, diz Saint Exupéry, “eu posso aumentar-te, eu posso melhorar-te, eu posso enriquecer-te”.
Que bom que tu existes!
Muito obrigado.
José Morais | Diretor pedagógico