Metamorfose das práticas de avaliação

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“De forma mais ou menos explícita, nós podemos inscrever-nos entre dois polos da ação educativa: o pólo da liberdade | equidade | justiça | humanidade e o polo da opressão, seleção, hierarquização, exclusão. Podemos ensaiar a fuga de uma escola graduada, segmentada, dividida. E sabendo que o mundo não é a preto e branco, podemos, certamente, optar por um posicionamento o mais próximo possível de um dos polos.” Em termos exploratórios, enunciamos as seguintes disposições necessárias para uma metamorfose desejável [das práticas de avaliação]: 1. Consciência da sua função central de educador. A missão primeira do educador e do professor é a de educar, transmitindo, leia-se criando condições para a aprendizagem, toda a herança cultural, científica e artística, e gerando oportunidades para que cada ser humano desenvolva todos os seus talentos. Ao fim e ao cabo, educar é educare e educere, conduzir e tirar de dentro, como ensina a etimologia. A função de ser juiz, classificador, agente de ordem hierárquica e “meritória” não faz parte da sua missão nuclear, embora o sistema assim nos queira fazer crer. 2. Reconhecimento do poder libertador da avaliação. Reconhecer que avaliar é ajudar, fazer aprender, reconhecer sucessos e insucessos, incrementar a capacidade de autoanálise e autorregulação das aprendizagens é ensinar uma prática de liberdade e de libertação. E não há função mais nobre que esta. 3. Opção por uma escola agência de promoção da igualdade de oportunidades. De forma mais ou menos explícita, nós podemos inscrever-nos entre dois polos da ação educativa: o pólo da liberdade | equidade | justiça | humanidade e o polo da opressão, seleção, hierarquização, exclusão. Podemos ensaiar a fuga de uma escola graduada, segmentada, dividida. E sabendo que o mundo não é a preto e branco, podemos, certamente, optar por um posicionamento o mais próximo possível de um dos polos. 4. Adoção de instrumentos de avaliação mais amigos do diálogo, da negociação, da interação, da colaboração e do desenvolvimento. Uma decisão que mais impacto pode ter nas práticas de avaliação é a de proibir, a nível de cada escola, a circunscrição da avaliação a dois testes sumativos por período. Cada professor seria obrigado a usar diversos instrumentos de avaliação, não podendo eleger o “teste” como instrumento chave. É certo que há várias formas de contornar uma “ordem” desta natureza. Mas a ação nos conselhos de turmas e nos departamentos, a colaboração, a evidência de que é possível sair do determinismo dos testes ajudaria a fundar e a estabelecer outra prática. 5. Inscrição da avaliação no processo didático. A avaliação ao serviço das aprendizagens tem de se inscrever no âmbito de todo o processo didático. Desde o momento de planificação, a avaliação tem de ser um operador essencial da regulação das aprendizagens. 6. Criação de uma cultura de liberdade, responsabilidade, desenvolvimento. Contra as ordens da clausura, da discriminação, da seleção, nós podemos fundar uma outra ordem mais justa, mais colaborativa e mais humana. E a avaliação tem aqui um importante papel a cumprir. In As Metamorfoses da Avaliação