Não te conheço

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Não te conheço.

seara-18-naoteconhecoNão te conheço, mas, lá no fundo, conheço-te como se fôssemos irmãos, gémeos, já sei como vais ser, do que gostas, o que vais querer, e já me moldo para te agradar, para ser do teu gosto. Nunca falámos, nunca te vi. Vives longe, não sabes quem sou eu, nem nunca ouviste o meu nome de família, mas, um dia, sei que vais aparecer. Entrar por esta porta adentro e falar-me, e vais perguntar tudo sobre mim, como me chamo, quantos anos tenho, o que faço e porquê, mas eu não vou retribuir as perguntas, já vou saber tudo sobre ti. Preparei-me para este momento, já me preparo há anos, agora, só faltas tu. Sinto a tua falta, sem ter sentido a tua presença, quero voltar a cheirar o teu odor, mas nunca o fiz antes. É o poder do amor, talvez apareças amanhã, talvez daqui a uns anos, mas uma coisa é certa, o meu momento mais feliz vai ser quando vir pela primeira vez esse rosto, que já vi mil vezes. Quando conheceres pela primeira vez a minha família, da qual já quase fazes parte. Quando o nosso bebé nascer, sim, aquele que já decidimos que se chamará Henrique e que terá um berço azul claro no canto junto à janela do nosso quarto, que nunca pisei, mas que é o local mais acolhedor que conheço. Esses vão ser os meus momentos mais felizes, e tu não sabes, mas também vão ser os teus. E, se um dia leres isto antes de tempo, vais perguntar-te “quem é este louco que escreve isto sobre mim?”, mas eu já sei, sou eu, o homem que te ama, e que tu amas de volta, e um dia conhecerás. Eu não te conheço, ainda.

Henrique Paulo | 11.ºH1