“O sistema educacional está descontextualizado. Estamos a ensinar capacidades e conhecimento enquanto deveríamos ensinar a aprender”. Esta foi a mãe das ideias de uma das últimas palestras de Joi Ito, o novo diretor de uma das mais prestigiadas instituições de investigação e inovação do mundo, o MIT Media Lab. Mais um eco de aviso da sociedade à escola do presente: ou muda ou morre! A escola que temos cada vez mais cava um abismo geracional e operativo entre o ensino que existe e a aprendizagem que é necessário e urgente alcançar.
Quando se discute o perfil de aprendizagem do aluno com 12 anos de escolaridade (que condicionará a qualidade do perfil profissional do futuro cidadão e a valia que terá para o desenvolvimento socioeconómico da sociedade a que pertence) todos concordamos que, possuir muitos conhecimentos (científicos, técnicos) , já não garante essa qualidade e muito menos a sua mais-valia.
Se fizermos uma viagem retrospetiva no conceito de trabalho, por exemplo, e a sua evolução no mundo ocidental vemos que ele nasceu idiossincraticamente ligado à ideia de obrigação, imposição, tortura. “Tripalium”(étimo latino de onde deriva o conceito) seriam três paus que obrigavam os animais a cumprir tarefas que justificavam o seu sustento. Durante séculos os trabalhadores lutaram para que o conceito de trabalho fosse dignificado e, através dele, pudessem afirmar a sua liberdade e com ela a sua sobrevivência e mérito social. Ganha esta luta (não sem que, várias vezes, as diferentes ideologias do lucro-fácil tentem recuperar o seu antigo significado), hoje o trabalho luta por uma identificação de sentido e significado mais ambicioso, mais humanista, muito mais libertador. Nos nossos dias o trabalho afirma-se não só como uma forma digna de garantir a sobrevivência e o reconhecimento social mas (o ideal é que fosse sobretudo) como realização pessoal, como o culminar de um caminho de conquista da vocação, do esforço, da aprendizagem procurada como um meio mas também como um fim.
Para o profissional do futuro este só está assegurado se, ao sair da escola, não for “apenas “ um bom acumulador de conhecimentos, mas alguém que aprendeu a (gostar de) aprender e a certeza de que a escola foi um investimento inicial que deve ser alimentado pela formação contínua ao longo da sua vida. Ver a aprendizagem como uma exigência de acompanhamento do progresso científico e social, saber convocar a procura do conhecimento como resposta à curiosidade e ao desafio pelo novo está é nova master lição do fim de um percurso escolar.
Albert Einstein, a quem a escola não soube compreender, afirmou: “A escola deve sempre procurar que o adolescente se transforme numa personagem harmoniosa e não num especialista. (…) O desenvolvimento da capacidade de pensar e de julgar de uma forma independente deveria figurar sempre na primeira lista de prioridades e não a aquisição de conhecimentos especializados. Se um homem domina os princípios fundamentais da sua disciplina e aprendeu a pensar e a trabalhar de uma forma independente, fará seguramente o seu caminho e será, entre outras coisas, mais capaz de se adaptar ao progresso e às mudanças que aquele cuja educação consiste em adquirir um conhecimento detalhado.” (Maurice Solovine, Paris: Flammarion, 1958). A originalidade, a criatividade, a procura pelas respostas para além do já pensado, a ousadia de colocar novas questões que não se fecham na esfera de satisfação cristalizada do aprendido mas na procura de melhores soluções para novos e velhos problemas ,são a marca de genialidade de Einstein …. e é isso que se pede ao profissional de futuro! Não que seja génio mas que seja inconformado. Que ouse procurar para além do evidente. Que seja empreendedor da sua própria aprendizagem.
Um novo perfil de aprendizagem, exigirá um novo perfil de ensino, de professor, de Escola.
Numa escola virada para o futuro nada pode cheirar a mofo. Tudo deve ser iluminado pela clareza de uma visão estratégica do conhecimento como inteligência aplicada e da aprendizagem com instrumento de conquista.
A Escola já não pode continuar com os dois pés na Academia ou no Liceu e falar em mudança assegurando que, no essencial, tudo fique como está. A Escola do Futuro será um espaço de reflexibilidade, de questionamento , de desafio continuo para a ultrapassagem do que sabemos e do que somos.
O seu êxito já não poderá ser avaliado por uma certificação de resultados cumulativos, mas pela validação da qualidade das competências multidimensionais adquiridas, como o compromisso pela autonomia aprendiz, a dinâmica no trabalho de equipa, a interatividade da aquisição cognitiva (no saber cientifico, técnico ou humanista e na sua aplicação às situações-problema) a responsabilidade ética e profissional ou a gestão assertiva da sua Inteligência Emocional e a compreensão da dos outros.
A Escola do futuro não certificará cópias …. Validará a originalidade.
Ana Paula Silva