O ano de 1933, Portugal e a Obra Salesiana

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Frederico Pimenta

O olhar sobre as Oficinas de José de Lisboa recai no momento informativo sobre a Festa da Imaculada Conceição, não só pela celebração do dia específico como pelo apelo que foi correspondido pelos benfeitores que acorriam em grandioso número. Como referência comum, nestas descrições, elencam-se os dois momentos vividos na celebração: o religioso e o recreativo.

Linhas convergentes


Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

O ano de 1933, Portugal e a Obra Salesiana nas linhas do Boletim Salesiano coevo (1)

No final do reitorado do Pe. Filipe Rinaldi, na orientação geral emanada sobre a edificação de novas obras salesianas, (2) “foi estabelecido não se abrirem novos Institutos, a não ser se tratasse de compromissos anteriormente assumidos ou de Casas destinadas á formação de Pessoal Salesiano”. (3)  O mundo salesiano anuiu a este desejo e em Portugal igualmente se fez sentir esta orientação, que sobressaiu na carta enviada pelo reitor maior Pe. Pedro Ricaldone aos Cooperadores e Cooperadoras das Obras do Bemav. Dom Bosco, onde se lê: “Em Portugal: Lisboa-Estoril (Aspirantado).” (4) Esta transcrição fez parte do arrolamento das obras de 1932, sendo que “Todas se destinam a Aspirantados, Noviciados, Estudantados, Filosóficos e Teológicos, Institutos em suma, para formação de pessoal salesiano, graças a Deus, em notavel aumento”. (5) Tal incremento viviam igualmente as Filhas de Maria Auxiliadora. O apelo e gratulação aos beneméritos terminam esta carta da primeira publicação do Boletim Salesiano do ano de 1933.

Neste ensaio, abordaremos, como já o fizemos noutras ocasiões, a figura do Pe. Pedro Cogliolo, a ideia difundida pelo Reitor Maior para o ano de 1933, os momentos festivos realizados nas Oficinas de S. José de Lisboa, referência a Poiares da Régua, o processo de beatificação de Domingos Sávio, referências à Oficina de S. José do Porto, casa salesiana do Estoril, e, por último, testemunho acerca da Peregrinação Nacional Portuguesa. Assuntos que, de alguma forma, encontram pontos de ligação com a realidade portuguesa dos anos trinta do século XX. Outros assuntos de âmbito muito mais abrangente não serão, como é habitual, abordados.

Após o sumário e folheando a publicação anteriormente aqui aludida, deparamo-nos, em integral evidência, com a vida de Mons. Pedro Cogliolo, (6) que falecera a 15 de setembro de 1932. O Osservatore Romano elenca o seu itinerário ao longo dos diferentes continentes com uma obra extraordinária, referindo Portugal: “Em 1894 era enviado a Portugal em qualidade de director do Orfanato de Braga. Nesse paiz abriu êle cerca de sete Casas e entre essas um florescente Noviciado e Estudantado (…) Durante o borrascoso periodo da revolução portuguesa voltou novamente a Lisboa para tratar dos interesses da Pia Sociedade Salesiana (…)”. (7)

A segunda publicação, de março-abril do ano de 1933, traz-nos, uma vez mais, a ideia geral do Pe. Pedro Ricaldone, traduzida no grande desígnio da paz através do “Magnifico programa para o Ano de 1933… e para toda a vida”: (8)  “Pensar bem de todos. Falar bem de todos. Fazer bem a todos”. (9)

O olhar sobre as Oficinas de José de Lisboa recai no momento informativo sobre a Festa da Imaculada Conceição, não só pela celebração do dia específico como pelo apelo que foi correspondido pelos benfeitores que acorriam em grandioso número. Como referência comum, nestas descrições, elencam-se os dois momentos vividos na celebração: o religioso e o recreativo. Nesta última parte, destaca-se a entrega de prémios compostos por 18 fatos completos, 12 calças, e 12 bibes; no ano letivo de 1931-32, as Oficinas de S. José tiveram a frequência de 300 alunos, sendo 140 internos e 160 externos. Estas informações, devidamente memorizadas, foram transcritas para o Boletim Salesiano, tendo origem na imprensa escrita da época, concretamente no jornal A Voz.

No que respeita à notícia sobre a casa salesiana de Poiares da Régua, encontramo-la sobre as páginas do Boletim por via de uma missiva enviada para este órgão de informação. Nela elucida-se sobre a “Casa que é destinada á formação do pessoal salesiano em Portugal”, (10) respigam-se os números de 59 aspirantes e 8 noviços e encontra-se ainda referência à paróquia de Canelas e à celebração da Festa da Imaculada Conceição.

Na publicação de maio-junho, florescem nas páginas do Órgão dos Cooperadores Salesianos os desenvolvimentos para a Causa de beatificação do Servo de Deus Domingos Sávio.

Na publicação de julho-agosto, documenta-se a realização da festa de S. José, no Porto, concretamente na Oficina de S. José, com as descrições inerentes à exposição subjacente à festa e ao ambiente festivo, dactilografadas nas páginas do jornal Comércio do Porto.

O relato de “Uma visita ao Asilo de Santo António” surge na imprensa local, na folha informativa Estoril. Inserida num conjunto de relatos sobre casas de caridade, enumera-se a obra salesiana, ”existindo em Portugal cinco dessas casas, Lisboa, Pôrto, Evora, Poiares da Régua e Estoril. As de Lisboa e Pôrto denominam-se oficinas de S. José, com uma elevada frequencia”. (11) O diretor do Asilo do Estoril, no ano abordado, era o Pe. José da Silva Lucas. 

O Boletim de setembro-outubro do ano de 1933, sob o título O Veneravel Domingos Savio ou a Solene Consagração do sistema educativo de Dom Bosco, apresenta, em continuação, o extenso e profundo artigo sobre o Sistema Preventivo através da figura de Domingos Sávio: “acaba de ser solenemente consagrado pela Igreja com a proclamação da heroicidade das virtudes do angelico adolescente Domingos Savio, aluno do Oratorio de Turim”. (12)

O patrono das Oficinas de S. José de Lisboa foi celebrado no dia 19 de março e teve a presença do Núncio Apostólico e de diversas personalidades portuguesas e brasileiras. Faz-se igualmente referência, neste número do Boletim Salesiano, à Festa de Dom Bosco realizada no dia 26 de abril de 1933, com missa celebrada pelo Superior das Casas de Portugal, Pe. Domingos Cerrato. Estiveram presentes os Superiores do Asilo de Santo António do Estoril e outras altas individualidades. É ainda exaltada a transcrição do jornal Ordem sobre o concerto de música sacra realizado em Lisboa, no qual “Os rapazes das Oficinas de S. José, dentro de suas forças e tempo de estudo, mantiveram-se seguros, dignos dos aplausos que tiveram”. (13) A direção da Schola Cantorum esteve a cargo do Pe. José Maria Alves. Igualmente no campo musical, anota-se, realizado na Oficina de S. José do Porto, um concerto da banda daquela oficina na celebração da Festa de Maria Auxiliadora.

Novembro-dezembro traz-nos, com remetente de Turim, a descrição da passagem, naquela cidade, da Peregrinação Nacional Portuguesa que visitou o Oratório de Valdoco, além de outros locais e, com enorme comoção, o Santo Sudário. Referência ao nome do Pe. Cruz e à sua comparência constante desde o início da presença salesiana em Portugal. O texto encontra-se documentado com fotografia dos participantes sob o espaço fronteiro aos aposentos de D. Bosco, em Valdoco.


  1. Todas as transcrições inclusas neste texto respeitam as normas de ortografia em vigor aquando da sua redação primitiva.
  2. Todas as transcrições foram retiradas dos seis números publicados no ano de 1933, respetivamente janeiro/fevereiro; março/abril; maio/junho; julho/agosto; setembro/outubro e novembro/dezembro.
  3. Boletim Salesiano, Orgão dos Cooperadores Salesianos, Ano XXX, Numero 1, Janeiro-Fevereiro, 1933.
  4. Ibidem.
  5. Ibid.
  6. Personalidade de importância extrema na edificação da obra salesiana, em concreto em Portugal, a qual abordámos, em trabalhos anteriores, em diferentes momentos e espaços geográficos.
  7. Boletim Salesiano, Orgão dos Cooperadores Salesianos, Ano XXX, Numero 1, Janeiro-Fevereiro, 1933.
  8. Boletim Salesiano, Orgão dos Cooperadores Salesianos, Ano XXX, Numero 2, Março-Abril, 1933.
  9. Ibidem.
  10. Ibid.
  11. Boletim Salesiano, Orgão dos Cooperadores Salesianos, Ano XXX, Numero 4, Julho-Agosto, 1933.
  12. Boletim Salesiano, Orgão dos Cooperadores Salesianos, Ano XXX, Numero 5, Setembro-Outubro, 1933.
  13. Ibidem.