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Como é visitar o Cemitério dos Prazeres?

É como passear numa cidade deserta.

É como passear numa cidade deserta com um oceano sobre os ombros, com os pés constrangidos, como se invadíssemos a vida de alguém.

Por um lado, estávamos inteiramente conscientes de que a vida tem fim; por outro lado, tínhamos completa confiança de que todos os falecidos pelos quais passávamos, nas suas casas eternas de pedra adornadas com símbolos, tiveram, por algum tempo, uma vida, tendo deixado algo para trás. Quantas papoilas vimos a representar o eterno sono? Quantos anjos? Quantos caduceus? Quantos epitáfios lemos? E quantas vezes nos deparámos com aquelas notas de rodapé a publicitar os artesãos dos túmulos e jazigos? (Também eles devem residir hoje num cemitério.)

Sendo nós uma turma apreciadora de filosofia, tendo entre nós até um grande filósofo, a ovelha Ernesto, atravessámos o cemitério com os olhos sempre abertos admirando o nosso redor, com um encanto e uma curiosidade inata no olhar, e debatemos a morbidez (ou o contrário) de lá nos encontrarmos. «Como encarar a morte?» foi uma das primeiras questões que nos foi propostas. A um consenso não chegámos, mas certamente sentiram alguns de nós um certo aperto no estômago ao nos confrontarmos com a paisagem parada, as tochas invertidas, a pequena campa de uma criança; mas também vimos, apesar da chuva e do céu acinzentado, e do sossego, e do espaço isolado, as flores que as pessoas vão deixando com os seus entes queridos já passados, e a mensagem de uma mãe a um filho, que lhe foi prematuramente roubado, e a cadeira onde se sentava sempre um homem, indo ver a sua esposa bem-amada, de quem a morte também o separara.

Porque vimos tudo isso, e explorámos muito mais (homenagens a autores, a artesãos, mesmo aquela escultura algo sombria e misteriosa, sob a qual nos inclinámos para descobrirmos o que escondia), por todas estas razões fomos ao cemitério, e de lá emergimos um pouco mais sérios, talvez mais sábios, mais unidos enquanto turma, e com mais uma memória para recordarmos um dia.

Texto: Madalena Preto | 11.º T
Foto: Mariana Costa | 11.º A