| O défice de responsabilidade |

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 | O défice de responsabilidade |

[“se podes olhar, vê; se podes ver, observa e age”]

É um défice raramente nomeado, mas que tem mil caras e manifestações. É um défice difuso, matricial, invasivo. É um défice minoritário (quero crer), mas que mina a vontade geral. À rédea solta, por aí prolifera.

Sem que as consciências profissionais se indignem; sem que os órgãos das escolas afirmem a sua legítima autoridade; sem que a administração educativa se manifeste e ponha cobro a situações de indiferença, de atropelo, de indignidade.

Mil caras e manifestações: quando o horário começa às 8:30h e o pedido tinha sido para começar às 9:30h; quando o dia livre não coincide com a expectativa e logo se ameaça com a falta sistemática às aulas; quando as medidas promotoras de mais sucesso escolar chocam com os interesses particulares; quando é sempre o outro que é responsável, o sistema, o ministério, os programas, os alunos, as famílias, o meio socioeconómico; quando as pequenas falsidades invadem o viver quotidiano; quando predomina a lógica da aparência e do faz-de-conta em todos os níveis do sistema educativo. Quando o que interessa é “dar a matéria”, o “cumprir o programa”, mesmo que os alunos nada aprendam. Quando e quando. O descrédito, a proletarização, os alibis.  Quando a autoridade desaparece. 

Faz falta a afirmação de uma ética de serviço público; uma ética do compromisso e do dever; o dever de implicação na construção e no desenvolvimento de projetos mais educativos; o dever de auto-avaliação; o dever da investigação e da reflexão; o dever da cooperação e da verdade. Porque neste jogo que vai minando as nossas escolas (quase) todos perdemos, (quase) todos nos sacrificamos, (quase) todos nos desiludimos. Porque só uma ação mais responsável legitima a exigência de (mais) direitos. 

J. Matias Alves