O Modernismo veio à escola…

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Carlota Fernandes

Esta segunda-feira, dia 30 de setembro, as turmas do 12.º ano tiveram uma manhã diferente dedicada à descoberta e entendimento do movimento cultural denominado Modernismo.

No âmbito da disciplina de Português, decorreu uma masterclass levada a cabo pela “mestre” Paula Bessa, que demonstrou grande disponibilidade e entusiasmo em proporcionar-nos uma introdução nesta matéria. Conhecer melhor este movimento e as suas respetivas características revelar-se-á imperativo para o estudo de obras da autoria de grandes nomes portugueses, como Fernando Pessoa, que vivenciaram aqueles tempos de mudança e inovação.

Num primeiro momento, fomos recebidos com uma composição musical que nos apanhou desprevenidos. Um poema épico tocado pela primeira vez no início dos anos 60. Poema sinfónico Vathek é da autoria de Luís Freitas Branco e teve a sua origem em 1913. Devido à sua forte inspiração em Claude Debussy, Freitas Branco compõe uma sinfonia claramente impressionista (movimento artístico contemporâneo do Modernismo) que serviu como ponto de partida para a viagem no tempo que nos transportou para a primeira metade do século XX.

Almada Negreiros foi uma personalidade destacada, tendo este sido uma figura de renome do Modernismo português e uma referência para a professora Paula. Numa época em que reinava a censura e o dogmatismo, Almada partilha a sua arte centrada em desenhos de humor. Numa entrevista dada no programa de TV Zip Zip, em 1969, dá ao humor uma renovada importância, uma vez que afirma ter sido este a permitir a passagem do século XIX para o século XX. A verdade é que se viveu um tempo de revolução e guerra que conduziu à necessidade de reagir tanto pelo humor, como pela crítica à degradação e ao estado em que se encontrava a Europa. É importante notar que o lado espirituoso presente em vários formatos artísticos, predominantemente caricaturas, é uma das marcas mais impactantes do Modernismo.

Almada Negreiros (ao centro) no programa de TV “Zip Zip”, em 1969,
com Raul Solnado (à esquerda) e Carlos Cruz (à direita)

Das sábias palavras de Almada, a seguinte frase ficou-me na cabeça: “Quando algumas pessoas têm a mesma desgraça, juntam-se.”, resposta sua à questão do surgimento do grupo inovador em que se inseria, que causa risos entre os espectadores. Este grupo estava ligado à revista Orpheu, publicada em março de 1915, que consagrou e promoveu a difusão do Modernismo, implementando um Portugal futurista. Tinha o objetivo de renovar a literatura portuguesa e apresentou apenas duas edições. Acredito que, por mais cruel que soe, seja um alívio esta “desgraça” ter sido partilhada por personalidades capazes de combater o ceticismo e a tradição dos portugueses, entre elas o génio Fernando Pessoa – que afirma “A arte é a autoexpressão lutando para ser absoluta” –, Mário de Sá Carneiro, Santa Rita Pintor, … a admirável geração de Orpheu.

Seguidamente, a professora Paula aprofundou as características e o contexto do Modernismo. Este surgiu numa rara época em que predominava a paz na Europa, a “Belle époque”. O ambiente pacífico e próspero impulsionou o desenvolvimento industrial e tecnológico, passou a valorizar-se sobretudo o presente e as invenções humanas. Predominavam o Realismo e o Naturalismo na arte e foram surgindo tendências como o Impressionismo, o Futurismo e o Sensacionismo (amplamente explorado por Fernando Pessoa.)

O Modernismo expandiu-se largamente pela Europa, chegando a destinos como a Alemanha, a França, a Itália, a Espanha e, obviamente, Portugal (Lisboa e Porto). Hoje em dia utilizaríamos o termo globalização para descrever esta “expansão” que, por mais estranho que pareça, não dependeu da promoção nas redes sociais nem de campanhas de publicidade.

Para terminar, ouvimos outro tema de Luís Freitas Branco – Fandango – pelos músicos da Orquestra Sinfónica casa da Música, que se enquadra no segundo Modernismo, datando de 1927. Não é preciso ser-se Shakespeare para notar as claras diferenças existentes entre ambas as melodias e ritmos, sendo a primeira (Poema sinfónico Vathek) mais solene e serena, e a segunda mais ritmada e alegre. Também a música se afastou da tradição e caminhou para a inovação.

Na opinião de alguém que desconhecia em grande parte este movimento e todo o seu contexto, posso afirmar agora que talvez pudesse vir a escrever uma obra de renome dedicada ao Modernismo.

Por fim, em nome dos alunos do 12.º ano, agradeço à professora Paula Bessa pela ótima e muito oportuna masterclass, bem como às professoras de Português, de quem partiu a ideia. Foi, sem dúvida, uma manhã revolucionária para o nosso intelecto.

Carlota Fernandes | 12.º H1