| O “pensar” dos professores |

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Vinha cansada. Era a minha quarta e última aula da tarde, tinha sido exigente e a energia despendida imensa. A caminho da sala dos professores, o barulho e a agitação normais no intervalo de uma escola muito grande. Cheguei à sala dos professores, sentei-me e deixei-me ficar a descansar. Incapaz de conversar, incapaz de falar, fui recuperando o folego. Tocou. Os professores saíram e eu ainda fiquei. 
São poucos os que sabem o esforço que faz um professor quando dá uma aula. O desgaste da profissão docente é muito específico. Ensinar e fazer aprender não são ações funcionais e mecânicas; são atividades em que a teoria e a ação prática se sustentam mutuamente num esforço muito empenhado e dirigido. 

Se por um lado, numa aula, existe uma atividade física intensa – anda-se imenso, fala-se muito, está-se muito tempo em pé, gesticula-se, dramatiza-se, a verdade é que existe um outro lado, menos visível para os que de um modo simplista e redutor olham para a docência: é que, enquanto desenvolvem todas estas atividades, os professores estão, também, a “pensar”. E o “pensar” dos professores é, igualmente, um esforço. Os pares sabem-no; mas, para grande parte das pessoas que levianamente olham para esta profissão, é um esforço que não se apresenta como tal. Para esses, esse esforço é inexistente. Não estou a referi-me ao tempo que as aulas levam – demoram e custam – a preparar. Não é a esse tempo (que também é muito) que me estou a referir. Estou a referir-me ao “pensar” enquanto se faz tudo o que antes referi, ao esforço do pensar “enquanto” a aula acontece. E tudo acontece quase em simultâneo. Uma aula é complexidade. É expor, raciocinar, recordar, mobilizar, estruturar, didatizar, selecionar, optar, facilitar, promover, exemplificar, ouvir, intuir, compreender, escutar, ponderar, conjugar, avaliar, ler, ditar…, um sem número de ações que, apesar de não serem visíveis ao simplismo do senso comum, são, verdadeiramente, muito exigentes. E são ações que, na sua consecução, convergem no espaço-tempo de uma só aula. 

Mas só aqueles que são professores o sabem tão bem. Sabem-no de “experiência feita”, de vida despendida, gasta em muitas salas de aula. Gasta-se tudo. Gasta-se de tudo ao mesmo tempo. E fica-se vazio quando nada se gastou. Quando isso acontece é porque a Aula não aconteceu.

Ana Luísa Melo