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| Prazer de escrever |Sentaram-se todas nos lugares habituais e deram início ao seu lanche anual no Café De La Paix, em Paris. As quatro amigas apenas se viam naquele dia do ano, mas traziam consigo as mais vistosas joias e as mais impressionantes histórias para brilharem naquele momento.

— Comprei cento e vinte e três caixas do mais maravilhoso chá do Ceilão — disparou Natalie, narrando a sua memorável viagem ao Sri Lanka, mas foi logo interrompida por Isabelle que contou, com sentida mágoa, o trágico episódio da perda dos seus cinco baús nas Maldivas. Michelle, por sua vez, mostrava centenas de fotografias enquanto se vangloriava da estadia no melhor (e mais caro) hotel do Dubai e do mundo! Apenas Catherine se mantinha calada, não porque fosse menos rica, viajada e vaidosa. Pelo contrário, era presença frequente nos bailes da Fundação Louvre, não perdia um concerto na Ópera de Paris e, todos os domingos, passeava pelo bairro de Notre Dame, na companhia dos seus amigos Jean e Pierre, com quem também veraneava no Mónaco, em Nice e em Cannes. Morava num palacete nos Champs Elysées e do seu escritório conseguia vislumbrar a Torre Eiffel, os seus jardins, os elegantes, apressados e reservados parisienses e as águas furtadas repletas de flores nas varandas. Mas, ao ouvir as suas amigas, compreendeu que, em 64 anos de vida, era apenas aquele o mundo que conhecia: Paris, Mónaco, Nice, Cannes e, por vezes, Londres e Nova Iorque. Foi com estes pensamentos que a magnata Catherine tomou uma decisão radical: no próximo ano, teria uma verdadeira aventura para fascinar Natalie, Isabelle e Michelle. Ligou a Lorena, a sua secretária de sempre, e ordenou-lhe que marcasse uma viagem. Destino? A Índia, um país luxuoso, de paisagens deslumbrantes, de riquezas imensas, de marajás e de tecidos bordados a ouro. Daí a um ano seria ela a rainha do lanche. Com profissionalismo, Lorena reservou uma suite no hotel mais luxuoso de Goa, na praia de Calangute. Contratou um motorista que, para além de ir buscar Catherine ao aeroporto e recolher as malas, também seria o seu mordomo, 24 horas por dia, todos os dias. Ah, e falava francês, o que era essencial, dado que Catherine apenas conhecia a língua de Napoleão.

No dia 13 de dezembro, Catherine encontrava-se no aeroporto de Orly, pronta para embarcar numa aventura que nunca mais esqueceria. Mal se sentou no lugar no avião, tomou um dos seus calmantes para dormir, descansadamente, durante as nove horas do voo. Sonhou com especiarias, cheiros exóticos e cores deslumbrantes e dormiu tão profundamente que nem sequer ouviu o anúncio assustado do comandante de que o avião teria de fazer uma aterragem de emergência em Nova Deli. Catherine só acordou quando o avião já estava parado e os outros passageiros saíam apressados. Dirigiu-se, então, para a entrada do aeroporto, certa de que o mordomo já lá estaria, com as malas no carro, pronto a levá-la ao hotel, onde tomaria um banho de sais, à luz das velas e com uma taça de champagne na mão. Nunca se apercebeu de que não estava no seu destino. Como seria de esperar, o motorista não estava lá. Ou melhor, estar estava, mas em Goa, a mais de 1500 km de distância. Indignada pela falta de pontualidade do motorista, a dama francesa saiu do aeroporto, furiosa e apressada, para apanhar um táxi. Viu-se imediatamente rodeada de crianças que a tocavam e empurravam. Seguiam-na com as mãos esticadas, à espera de algumas rupias que seriam, talvez, o almoço de toda a família.

Em pânico, Catherine desatou a correr e só parou quando os seus sapatos de salto alto brancos já estavam cheios de pó e escuros da sujidade das ruas. Estava num beco imundo e escuro como nunca vira nem em Paris nem no Mónaco, nem sequer em Nova Iorque. Teve muito medo e ficou ainda pior quando viu um homem que caminhava direito a ela. “É o fim!”, pensou e caiu desmaiada…

Quando acordou, olhou à sua volta ainda pouco habituada à escuridão do espaço. Era uma casa sem divisões onde vivia uma família inteira e que, durante duas semanas, acolheu a francesa. A viagem de Catherine não decorreu de acordo com o previsto. Foi bastante mais rica, não em questões mundanas, mas em experiência, pois, para além de ter ficado a conhecer mais sobre a cultura daquele país fascinante que é a Índia, ficou, acima de tudo, a conhecer melhor o que verdadeiramente importa: as pessoas!

Passado algum tempo, as quatro amigas voltaram a reunir-se! Sentaram-se todas nos lugares habituais e deram início ao lanche no Café De La Paix.

— Vou contar-vos a história incrível da minha viagem à Índia, disse de imediato Catherine.

Constança Menezes Coelho | 9B
Ilustração | 4D