“Sinceramente, estou preocupado com o próximo ano letivo e com o que vai ser possível fazer com ele. Este já está amputado, mesmo que insistamos em meter-lhe uma prótese digital à força. Deveríamos olhar para diante, a prevenir os cenários possíveis, em vez de estarmos a olhar para uma flatline.” (Paulo Guinote)
“Este é também um tempo de enriquecimento. Não estou a dizer que nos vamos tornar numa escola online ou à distância; que pobreza isso seria! Estamos a falar de conceber uma proposta pedagógica diferente que incorpore as possibilidades que as tecnologias oferecem ao processo de ensino e de aprendizagem. A verdadeira mudança ocorre frequentemente em crises profundas e este momento encerra a possibilidade de não voltarmos ao status quo quando as coisas voltarem ao “normal”. (Andreas Schleicher)
Estamos a viver um presente estranho. Sendo o presente rebelde e fugidio, parece agora tolhido no andar e amordaçado no seu grito de futuro. É, no entanto, um presente que continua a poder e a dever ser vivido intensamente. Podemos e devemos pensar no futuro, mas sem deixarmos escapar este presente cheio de possibilidades, de desafios à nossa criatividade, cheio de interrogações e de constatações relativamente à nossa pequenez enquanto seres humanos. António Nóvoa escreveu em 1999 que a paixão pelo futuro pode ser um bom spot publicitário, mas, em educação, significa quase sempre um défice de presente. Que ninguém fuja deste presente, que se viva intensamente, que se beba na sua fonte de água férrea e que se aprenda o muito que ele está a ensinar. A interrogação ergueu-se perante nós, recordando-nos que a capacidade de nos interrogarmos é uma das forças mais poderosas que temos desde o nascimento.
O mundo em que vivemos é o único de que temos experiência. Se não formos capazes de torná-lo melhor e mais justo, milhões de indivíduos continuarão a morrer em silêncio, tristes, alguns amargurados. Importa então que, com as ferramentas que temos e com aquelas que somos capazes de inventar, interroguemos a realidade, saibamos ouvir os seus silêncios de modo a encontramos respostas para este mundo onde, sobretudo os jovens, estão destinados a viver. Esta perturbação global da educação, sem precedentes nos tempos modernos, está também a impulsionar uma inovação sem precedentes, implicando os governos na adoção de medidas que assegurem a continuidade da aprendizagem através de meios alternativos, desde as plataformas digitais à televisão e à rádio. A tecnologia digital permite-nos encontrar respostas inteiramente novas para o que as pessoas aprendem, como as pessoas aprendem, onde as pessoas aprendem e quando aprendem. Vivemos um momento de desenvolvimento profissional profundo para que no futuro, cada vez mais, a aula seja cada vez menos as quatro paredes.
Não coloquemos mais pressão sobre este tempo. Precisamos de horizontes, de luzes, de pistas, mas, enquanto escola, não esqueçamos o essencial. O cumprimento do programa e das metas curriculares é importante, porém, o que significa cumpri-los? O programa e as metas curriculares só se cumprem quando os alunos aprendem. É, por isso, tempo de induzir os alunos numa dinâmica de procura, de pesquisa, de construção do conhecimento. É ainda tempo para uma prática sistemática de escuta, de modo a podermos responder às angústias, às necessidades e problemas que os nossos alunos possam ter. É tempo de sermos educadores.
José Morais | Diretor Pedagógico