Joana Faria
Mil vezes adeus é um romance de John Green que permite explorar o universo dos problemas mentais. De facto, é entre um mistério por resolver, uma paixão por domar e um distúrbio por superar que se desenrola a entusiasmante e comovente narrativa. O enredo principal da história desenvolve-se em torno do desaparecimento de Russel Pickett, pai bilionário de Davis, que, após uma acusação de corrupção, fugiu de casa a meio da noite e nunca mais regressou. Em jogo estão cem mil dólares, o que faz com que a amiga Daisy rapidamente fique fascinada com o mistério e tente reunir Aza, uma rapariga órfã de pai, com Davis. No entanto, o romance entre Aza e Davis acaba por se intrometer no meio da busca pela recompensa monetária.
Em primeiro lugar, John Green desempenha um excelente papel ao representar a personagem Aza e a sua doença mental, TOC, que significa Transtorno Obsessivo Compulsivo. O autor retrata com clareza a luta da protagonista com o seu subconsciente e as dificuldades que esta enfrenta todos os dias devido à sua doença. De facto, esta acaba por ter um grande impacto na sua relação com os outros, até mesmo com a sua melhor amiga Daisy. Assim, um exemplo de um dos episódios marcantes de Aza é quando a mesma está no hospital, depois de ter tido um acidente de automóvel com a sua amiga Daisy, e tem uma crise com germes, acabando por beber o desinfetante do hospital – o que deixa, então, transparecer a gravidade do seu estado mental.
Em segundo lugar, o livro, apesar de ser bastante bom, pode não corresponder às expectativas do leitor. Na verdade, este, após a leitura da sinopse, fica com a ideia de que um dos pontos da narrativa é efetivamente o desaparecimento de um bilionário. No entanto, este assunto é totalmente apagado da história. A verdade é que o desaparecimento do pai de Davis é apenas um meio para um fim, que é, neste caso, o relacionamento entre Aza e Davis. Ainda assim, este romance não precisava deste ponto de ligação, uma vez que as personagens já se conheciam e já tinham história, devido a um acampamento realizado quando eram jovens. Deste modo, percebe-se que este desaparecimento era desnecessário ou, então, era preciso ser mais trabalhado para ser realmente um mistério. Exemplificando, em vez de irem dando pistas ao longo do livro para o leitor estar mais envolvido, deram-nas todas de uma só vez, sendo praticamente irrelevantes. Na verdade, só resolveram o caso, por mero acaso, uma vez que Daisy e Aza, que estavam numa exposição subterrânea, se puseram a andar pelo túnel, descobrindo, assim, a verdade.
Em suma, a obra Mil vezes adeus tem os seus pontos positivos, mas, ao mesmo tempo, tem partes menos boas. Deste modo, a obra é digna de elogios no que toca ao modo como o autor caracteriza os problemas mentais de Aza e a perturbação constante em que esta vive. No entanto, o trabalho de John Green não é tão bom quando se fala no modo como o mistério é desenvolvido. Efetivamente, este é desnecessário, uma vez que não é explorado devidamente, criando, assim, expectativas erradas ao leitor. Na verdade, este apenas é utilizado como um meio apara alcançar um fim, ou seja, é o ponto de ligação entre Aza e Davis, sendo, mesmo assim, dispensável.
Joana Faria, 12.ºT1