O que nos dizem os livros…

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Matilde Cardoso

Jane Eyre é um dos livros ingleses mais famosos do século XIX, sendo uma obra-prima da literatura vitoriana. Publicado em 1847, é o trabalho mais famoso de Charlotte Brontë e já foi adaptado inúmeras vezes para o cinema e para a televisão. De facto, através da protagonista, Jane Eyre, uma heroína corajosa e resiliente que desafia as normas da época em busca da sua própria identidade, a autora constrói uma história cativante de autodescoberta, de amor e de luta pela independência numa sociedade extremamente patriarcal.

Neste sentido, a história inicia-se com Jane, uma jovem órfã, a ser enviada para casa da sua tia e primos, onde é constantemente agredida física e psicologicamente, pois é rebaixada, oprimida e, pior do que tudo, não é amada. Mais tarde, entra para um colégio interno, onde fica até completar os 18 anos. Ao sair do internato, é contratada como governanta de Thornfield Hall, uma casa cujo proprietário é Mr. Rochester, um homem considerado pouco atraente e com alterações frequentes de humor, mas, ao mesmo tempo, misterioso e bastante inteligente. Assim, e sem grande surpresa para o leitor, assistimos à paixão de Jane, e a relação dos dois torna-se o motor principal da história e um dos seus principais pontos de interesse. Mas, claro que nem tudo é “um mar de rosas”, e as duas personagens têm de passar por vários desafios antes de encontrarem a felicidade.

Por um lado, Jane Eyre é uma obra rica em simbolismo através da presença recorrente de elementos como o “fogo” e a “água”, por exemplo. Na verdade, o romance está repleto de imagens e metáforas que acrescentam camadas de significado à narrativa. Efetivamente, a casa de Thornfield Hall, com seus corredores sombrios e seus segredos ocultos, torna-se um símbolo das lutas internas e externas de Jane, como, por exemplo, o fogo que consome a propriedade e que representa tanto a destruição como a renovação. Assim, paralelamente às descrições detalhadas e às reflexões introspetivas é criada uma atmosfera profunda que transporta o leitor para a Inglaterra vitoriana. Do mesmo modo, é através da voz de Jane que se é levado a explorar as profundezas da alma humana, navegando os recantos da emoção e da paixão.

Por outro lado, Jane Eyre não é apenas uma obra de ficção, é também uma crítica social perspicaz o que torna o livro um espaço importante de reflexão. Efetivamente, a narrativa central aborda uma série de temas universais que continuam a ressoar na atualidade e através dos quais Brontë questiona as normas sociais e as injustiças, especialmente para com as mulheres e os mais desfavorecidos. É através das experiências de Jane que são evidenciadas as realidades cruéis da pobreza, da exploração e da marginalização social, sendo que a capacidade de criar personagens tridimensionais e complexas permite que a autora explore estes temas de maneira autêntica e multifacetada.

Em última análise, Jane Eyre é mais do que apenas um romance. É uma obra de arte que continua a inspirar e a cativar leitores em todo o mundo. Através da jornada de autodescoberta e do amor da sua heroína, Charlotte Brontë relembra a importância de permanecermos fiéis a nós mesmos e de lutarmos por aquilo em que se acredita, mesmo nos momentos de adversidade. Deste modo, com a sua escrita e visão perspicaz da natureza humana, Brontë cria uma obra que ilustra perfeitamente a realidade da época, sendo possível transpor as críticas sociais para a atualidade.
Matilde Cardoso, 12.º E1