Margarida Azevedo
A Harpa de Ervas de Truman Capote é um livro deslumbrante que reflete sobre a vida, as pessoas e o amor em todas as suas formas. A editora deste livro é Livros do Brasil (da Porto Editora) e a sua primeira edição data de maio de 2018, embora tenha sido escrito originalmente em 1951. Na verdade, Truman Capote afirmou-se desde logo como um dos autores americanos mais originais do pós-guerra.
Este livro começa com a personagem principal, um órfão adolescente, Collin Fenwick, a ir viver com as suas duas tias, as irmãs Dolly e Verena Talbo. Assim, as pessoas que rodeiam Collin são adultos que poderiam perfeitamente ser denominados “crianças” de meia-idade, incapazes de enfrentar o “inferno”, Verena, a tia mais velha. Neste sentido, a história centra-se em Dolly, a irmã mais nova, que arranjou um remédio para uma doença de que apenas ela sabe o segredo, e nas tentativas da sua irmã para se apoderar dessa receita e fazer negócio com ela com a sua própria fábrica. Isto leva Dolly a fugir para uma casa na árvore, acompanhada pela sua melhor amiga, Catherine, e por Collin. A história acaba com o desmoronamento da família devido ao falecimento de Dolly, acontecimento que abala toda a aldeia.
Em primeiro lugar, a obra permite uma leitura mais leve ao destacar não só sentimentos como a amizade, o amor e a felicidade, mas também as relações estabelecidas entre os personagens. De facto, a amizade entre Collin e Dolly é pura, como a de uma mãe e um filho, e estes são inseparáveis. Por exemplo, Collin vê Dolly como um porto de abrigo e, quando esta morre, ele mal consegue entrar em casa devido às lembranças que ali tinha com ela. Assim, também se realça a necessidade de aprender ou reaprender a amar.
Em seguida, este livro tem também uma leitura profunda diluída numa linguagem mais suave na qual se estampam tópicos mais sensíveis como o racismo, a discriminação e os perigos do crescimento económico que o futuro se encarregou de tornar visíveis. Por exemplo, a ganância levou Verena a investir na compra da fábrica e a perder tudo, incluindo o único amor da sua vida e a relação com Dolly. Já o racismo é visível quando a melhor amiga de Dolly, Catherine, uma mulher negra, é presa e a tentam pôr numa cela destinada a pessoas de cor e ela recusa, o que comprova a recorrente luta pela qual estas pessoas passam para serem dignas do mínimo de respeito.
Concluindo, A Harpa de Ervas é uma história cativante que transporta o leitor para o tempo nostálgico da infância. Assim, o livro aborda não só os tópicos mais simples como o amor e a felicidade, mas também os mais profundos como o racismo e os preconceitos. Na verdade, é contra este mundo desumanizado que a harpa de ervas se insurge e faz ouvir a sua música, como percebemos através do uso recorrente de metáforas como é exemplo a seguinte passagem “O vento somos nós — dirá Dolly —, absorve todas as nossas vozes e lembra-se delas, depois sopra-as através das folhas e dos campos, a falarem e a contarem histórias.”.
Margarida Azevedo, 10.º T5