Margarida Azevedo
O livro As viagens de Gulliver escrito por Jonathan Swift foi publicado em 1726. Esta obra retrata a história de Lemuel Gulliver, um cirurgião de navio, que embarca em diversas aventuras e encontra civilizações fantásticas, cada uma com as suas próprias tradições e crenças.
Concretamente, Gulliver visita uma terra habitada por pessoas minúsculas, outra por gigantes, uma com pessoas obcecadas com a ciência e, por fim, na última terra, são cavalos racionais que governam, enquanto criaturas semelhantes a seres humanos vivem de forma primitiva e irracional. Assim, o personagem principal, ao longo da história, depara-se com culturas variadas e muito diferentes da que lhe é familiar, a inglesa, e é através destas que o autor critica vários aspetos da natureza humana tal como a sociedade, a política e a religião.
Primeiramente, é de destacar a brilhante maneira como o autor utiliza a ficção como ferramenta crítica. De facto, ao usar a estrutura de uma história de viagens fantásticas, Jonathan Swift consegue mascarar as suas críticas fazendo com que estas pareçam mais leves e acessíveis, enquanto avalia profundamente as falhas da sociedade humana. Por exemplo, na viagem a Liliput, onde Gulliver se encontra num mundo habitado por seres minúsculos, as disputas ridículas entre povos fazem uma analogia direta à política britânica da época, que, com a sua obsessão pelo poder, muitas vezes perdia de vista o bem-estar coletivo. Nesse sentido, Swift não só expõe claramente a futilidade das disputas internas da Inglaterra, mas também convida eficazmente os leitores a refletirem sobre a maneira como o poder é exercido em qualquer sociedade.
Seguidamente, o autor apresenta Gulliver como uma personagem complexa que está em constante evolução. Efetivamente, o desenvolvimento do seu caráter está profundamente ligado às suas experiências e encontros nas terras fantásticas que visita, refletindo as suas mudanças nas perceções sobre a sociedade, a humanidade e ele próprio. Na verdade, é através deste personagem que Jonathan Swift capta, com eficácia, a atenção dos leitores, pretendendo que estes se identifiquem com Gulliver para que sigam o seu caminho moral. Deste modo, na segunda aventura, é o desprezo do rei do país dos gigantes pela corrupção e violência da sociedade europeia que força Gulliver a reconsiderar os seus próprios valores e as falhas na cultura que antes tanto valorizava.
Em suma, o grande mérito do livro está na forma como Swift aborda temas universais, como o poder, a moralidade e a natureza humana, de maneira crítica e, muitas vezes, irreverente. De facto, a forma como este mascara as suas críticas atrás das aventuras extraordinárias de Gulliver e o desenvolvimento de caráter do personagem principal ajudam a que também o leitor se aperceba das falhas da sociedade e que mude a sua perspetiva em relação a esta. Deste modo, de maneira global, o livro está muito bem conseguido, na medida em que transmite claramente a sua mensagem e, com quatro empolgantes aventuras, mantém o leitor cativado à história.
Margarida Azevedo, 11.º T5