O que nos dizem os livros…

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Carolina Megre No âmbito das apresentações orais da disciplina de Português, foi pedido a cada aluno que fizesse uma apreciação crítica de uma obra escolhida por si de um conjunto de livros sugeridos pelo Plano Nacional de Leitura. A sugestão de hoje vai para Se numa noite de inverno um viajante de Ítalo Calvino. A obra Se numa noite de inverno um viajante de Ítalo Calvino, um escritor e jornalista italiano, foi publicada em junho de 1979. Este livro é um romance sobre o prazer de ler romances e pode ser considerado um desafio às convenções literárias. A obra é a história de dois leitores confusos cujas tentativas de continuar o próprio romance de Ítalo Calvino são constantemente frustradas. Na verdade, no clímax de Se numa noite de inverno um viajante, a história é interrompida e, na busca da sua continuação, o Leitor e a Leitora conhecem-se e são expostos a outra narrativa. Esta situação ocorre dez vezes, sendo dez os romances interrompidos pelos quais os protagonistas, o Leitor e a Leitora, entram numa incessante busca para os retomar. Deste modo, cada capítulo é composto por duas partes, uma primeira que consiste na revolta do Leitor perante a interrupção do seu livro e na consequente busca da sua continuação, e uma segunda que consiste no desenvolvimento da história seguinte. Neste sentido, nesta obra, um aspeto a louvar é a estrutura fragmentária que é capaz de cativar o leitor de forma exímia! De facto, a constante interrupção no ponto alto das narrativas deixa quem está a ler a obra curioso para o que vai acontecer em seguida. Um exemplo claro disto é logo no primeiro capítulo, onde, numa estação ferroviária, toda a narrativa gira em torno de uma mala misteriosa. Contudo, no momento em que o viajante tem indicação para deixar a mala num comboio, esse passa e a narração acaba, totalmente em aberto, sem se saber sequer se a mala ficou com o passageiro ou seguiu no comboio. O leitor fica obviamente intrigado e pretende saber o resto da história, tal como o Leitor. Além disso, o facto de o narrador utilizar a segunda pessoa do singular para se dirigir ao leitor cria uma relação de proximidade excecional! Esta característica permite que o leitor se integre na obra e viva as experiências como o Leitor, personagem principal. Na verdade, este diálogo com o leitor surge associado ao ato de ler, às frustrações, expectativas, encantos e desencantos que advêm deste ato. Nesta obra, também no primeiro capítulo, mas num momento distinto, o narrador dirige-se ao leitor dizendo “Afasta-te da tua família”, “Relaxa o corpo”, a fim de criar a melhor experiência possível ao leitor. De facto, estas indicações remetem para inquietações que as pessoas têm quando lêm, como é o caso de encontrar a posição certa para ler. Por fim, a habilidade de Ítalo Calvino de iniciar dez enredos totalmente diferentes entre si é fenomenal! Este aspeto torna a obra ainda mais interessante, uma vez que dá oportunidade ao leitor de contactar com inúmeros géneros literários. Efetivamente, Calvino introduz desde romances policiais, a livros de mistérios, a literatura histórica, a temas mais filosóficos, tornado a leitura da obra dinâmica. Em suma, a obra Se numa noite de inverno um viajante é genial por ter tantos aspetos que permitem captar a atenção do leitor. De facto, a estrutura fragmentária deste livro é de realçar, por ser capaz de deixar o leitor interessado no que vem a seguir. Também a utilização da segunda pessoa do singular é uma estratégia magnífica para criar uma relação mais íntima entre o narrador e quem está a ler, ao mesmo tempo que aborda o tema do prazer da leitura. Por último, a abordagem de dez tramas diferentes entre si é também inacreditável, enriquecendo em muito a obra. Carolina Megre, 12.°T1