Joana Amaral Não mais amores é uma obra caracterizada pela sua natureza contemplativa e poética, que permite que o leitor realize introspeções intensas, identificando-se com os elementos narrados devido à realidade e intemporalidade dos mesmos. Publicado em 2020, o livro Não mais amores é da brilhante autoria de Javier Marías, um aclamado escritor espanhol, cuja obra apresentada consiste numa compilação de todos os seus contos. Assim, composta por vinte e seis pequenas histórias, esta coletânea de perspetivas sobre a vida que transgridem o mundo físico explora temas como o amor, a morte, a traição e o passado. Assim, encontram-se histórias que vão desde um professor que, ao chegar a uma nova escola, se depara com a intrigante existência de um fantasma, até uma jovem mulher que, lendo para o espírito de um homem de caráter humilde, vê a sua vida passar de forma assustadoramente rápida, sem que dê conta do sucedido. Efetivamente, trata-se de uma obra que fomenta o gosto pelo sobrenatural e o oculto, abrindo as portas para um universo “pleno de mistérios e reviravoltas”, onde a certeza do real é escassa e o suspense, despertado pelo desenlace em aberto das narrativas, se revela permanente. Por um lado, os temas explorados através de uma escrita delicada e fluída destacam se pela sua intemporalidade e universalidade, o que torna a leitura desta obra uma experiência cativante. De facto, os contos são construídos em torno de personagens profundamente complexas e multidimensionais, com defeitos e qualidades, como qualquer ser humano, que se encontram em situações que põem à prova os seus limites emocionais e morais. Assim, partindo dos acontecimentos narrados, de forma exímia, o autor convida os leitores a mergulharem consigo em reflexões filosóficas sobre a natureza da vida humana, do amor e da morte, através das quais é possível encontrar maior facilidade na identificação e em estabelecer uma relação com a história. Por exemplo, no conto “Uma noite de amor”, Marías representa excecionalmente uma situação que demonstra a realidade muitas vezes vivida entre cônjuges: a decadência da vida sexual de um casal, que, apesar de se amar, vê a sua paixão que era, anteriormente, como um fogo, morrer lentamente. Por outro lado, a apresentação de várias narrativas, sem conexão entre si e de curta extensão, pode levar a uma perda de interesse por parte do leitor, uma vez que estas têm um caráter pouco coeso e, muitas vezes, até dissonante, quebrando o ritmo de leitura e de atenção. Com efeito, apesar de a brevidade poder surgir como forma de apelar à curiosidade de quem lê, com o constante surgimento e esquecimento de personagens distintas e de diferentes linhas de ação, esta característica do conto acaba por resultar no efeito contrário e indesejado pelo autor. Por conseguinte, as quebras entre cada história, ao invés de dinamizarem o processo de interpretação, tornam-se de índole labiríntica e dão origem a um sentimento de desorientação e, mesmo, aborrecimento. Exemplificando, no conto “A demissão de Santiesteban”, o autor apresenta como personagens principais Derek Lilburn e um fantasma chamado Leandro P. Santiesteban, mas, passadas apenas vinte páginas, a ação roda já em torno de Javier Santín e Javier de Gualta, cuja história é profundamente distinta da inicial, que associam à apreciação da obra um caráter de desencanto. Finalmente, o recurso a uma linguagem sofisticada e a utilização recorrente de vocábulos e expressões, consideravelmente, desatualizadas tornam aquilo que seria uma atividade de lazer num trabalho de exploração e compreensão da intenção do autor. Na verdade, apresentam-se histórias de poucas páginas, que, idealmente, conduziriam a uma facilidade de apreensão dos conteúdos desenvolvidos. Porém, à reduzida dimensão dos contos, opõe-se uma densidade linguística, patente na sua generalidade e dificultadora do processo de leitura, que perde o seu objetivo profícuo e adquire, consequentemente, um caráter moroso e enigmático. Deste modo, através do uso de palavras como foulards e papillon para se referir a acessórios que surgem como alternativas ao uso de gravatas, desconhecidas à maioria, e ainda o recurso a expressões complexas como “constelação de interesses-fatores”, no conto “Gualta”, o processo de leitura torna-se complicado e maçador. Em conclusão, Não mais amores é uma obra caracterizada pela sua natureza contemplativa e poética, que permite que o leitor realize introspeções intensas, identificando-se com os elementos narrados devido à realidade e intemporalidade dos mesmos. Contudo, a dimensão curta de cada conto, juntamente com a utilização de um vocabulário obsoleto, resulta no desinteresse de quem lê, tornando a sua leitura num processo demorado e destituído de continuidade. Joana Amaral, 12.º H1