Oficinas de S. José na década de 1930

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Com linhas indeléveis de carinho pela obra salesiana, perspetivou, através do amparo desenvolvido, um futuro risonho para os rapazes. Linhas convergentes ______________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. O ano de 1930 e a emoção de Mecia Mousinho de Albuquerque As crónicas enviadas no ano de 1930, em especial da América do Sul e com maior minúcia do Brasil, encheram as páginas do Boletim Salesiano. Como pequenas pérolas, em relatos repletos de emoção, surgem no mesmo suporte os apontamentos da vivência das Oficinas de S. José, há 93 anos. A década de 1930 revelou um ambiente deveras favorável ao desenvolvimento das Oficinas de S. José, de Lisboa. O dinamismo das atividades, o papel do Pe. Pedro Rota e as suas ideias para a transformação deste espaço salesiano, a alteração da “Associação Protectora das Oficinas de S. José” para “Associação Auxiliadora das Oficinas de S. José”, com vista à mudança de Estatutos e consequente aproveitamento da sua eficácia e outras dinâmicas, tornaram então luminoso este período. (1) Limitemos a nossa deambulação escrita ao ano de 1930 com a expressão herdada de cada Boletim Salesiano desses doze meses. O Pe. Felippe Rinaldi assinalou, nesse dia 1 de janeiro de 1930, a beatificação de Dom Bosco (2) e os inevitáveis reflexos que transparecem nas notícias de várias presenças salesianas na dispersão geográfica. (3) No espaço lisboeta e neste âmbito, o Boletim Salesiano afirma que “Consta-nos qua se vai realizar na magestosa Sé Catedral de Lisboa um Tríduo e uma Festa solene em honra do Beato Dom João Bosco, (…) Uma imponente massa coral composta dos alunos dos Padres Salesianos (…) executará cantos polifónicos, sob a regência do Rev.o Padre Pedro Rota.” (4) Neste percurso inaugural de 1930, o periódico elencou igualmente o Congresso dos Superiores Maiores, a Utilidade da Cooperação Salesiana, o Instituto Pio XI, em Roma, a obra dos Oratórios Festivos, a Basílica de Maria Auxiliadora e o altar ao Beato D. Bosco e, por último, o apelo à colaboração de todos para os projetos do ano que se iniciava. Dirigida igualmente ao Boletim Salesiano de janeiro/fevereiro, apresenta-se de forma exaustiva a figura de D. António Mendes Belo, Cardeal Patriarca de Lisboa, falecido em agosto de 1929. No mês seguinte, testemunha-se o acolhimento ao novo Patriarca de Lisboa, Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira: “O Boletim Salesiano, associa-se a todas essas manifestações e beija respeitosamente o anel de S. Em.cia, augurando os melhores triumfos espirituais a’ grande e gloriosa família lusitana.” (5) Esta explanação é acompanhada de uma fotografia do novo Cardeal Patriarca em visita ao Oratório de D. Bosco, em Turim. No âmbito geral da Família Salesiana, a publicação do mês de maio/ junho ostenta os vinte anos da morte de D. Miguel Rua e a morte trágica dos missionários D. Luiz Versiglia e Pe. Calisto Caravario. Destes últimos, apresenta-se uma breve biografia com destaque para as suas personalidades singulares, a qual continua nos meses seguintes. (6) Das Oficinas de S. José de Lisboa “Vamos hoje dar uma notícia circunstanciada da Festa que, no dia 19 de Março, se realizou nas Oficinas de S. José desta cidade, em honra do seu Padroeiro.” (7) Nela se atesta a missa de comunhão geral celebrada pelo Diretor, Pe. José da Silva Lucas. Os alunos da Schola Cantorum cantaram a Missa de São Francisco de Sales orientados pelo Pe. Pedro Morais, assistiram a uma palestra, antecedida de almoço e, “Não obstante o tempo chuvoso, alguns rapazinhos da escola, devidamente uniformizados, evolucionaram no campo de pedibola em demonstrações de ginastica.” (8) As descrições das comemorações do Beato João Bosco dispersaram-se por todo o ano nas páginas do Boletim, sendo de realçar, por um lado, a celebração que teve lugar na igreja da Encarnação, pois nela, e pela primeira vez, os alunos das Oficinas de S. José de Lisboa envergaram as respetivas fardas, e, por outro lado, a cerimónia realizada com grandíssima magnificência, na Liga Naval. (9) O nome de Mecia Mousinho de Albuquerque surge num patamar superior no campo das letras portuguesas. No seu deambular, não quis deixar de autografar um indubitável escrito publicado no Boletim Salesiano, dando uma ideia geral das Oficinas de S. José, de Lisboa. Traçou a introdução do seu texto com base no apoio à juventude pobre e na figura do Santo José, Pai de Jesus. Com linhas indeléveis de carinho pela obra salesiana, perspetivou, através do amparo desenvolvido, um futuro risonho para os rapazes. Não esqueceu que “As Oficinas de S. José teem uma historia, acidentada com lances de desventura, como todas as suas congéneres.” (10) Não esqueceu igualmente os primeiros momentos da obra salesiana em Lisboa e os sobressaltos com a mudança do regime político. Pela sua pena, ficamos a saber que as Oficinas de S. José de Lisboa tinham nesse ano de 1930 125 internados e 200 externos e que os alunos eram admitidos dos 9 aos 14 anos e seguiam a sua vida até serem adultos. A escritora informa também que a 1.ª classe tinha duas aulas com 120 alunos, 2.ª classe funcionava com 56 alunos, a 3.ª classe com 32 e a 4.ª classe com 29 alunos e que quem praticava nas oficinas tinha aulas à noite. Elenca, de seguida, os impecáveis espaços da instituição, sem esquecer “… um grande quintal onde se criam galinhas, se engordam porcos, etc.” (11) Nesse vínculo com os dados listados, enumera ainda o horário das refeições: 08.30h da manhã, pão e café; ao meio dia, jantar; às 14.30, merenda e às 08.30 da noite, ceia. Constatação gritante é o dinheiro insuficiente para os gastos realizados e a importância das esmolas. Pormenores curiosos e estruturantes de um percurso luminoso mantido com dificuldades. Termina com um apelo para ajuda à primorosa obra de benesse à juventude e “regeneração social” (12) que se iniciou no Alto dos Prazeres. O Boletim Salesiano evidenciava, neste ano de 1930, em particular, a sua postura de órgão de informação católico, definidor da ideia mestra de D. Bosco sobre a imprensa. (13) Acompanhou o percurso missionário desenvolvido em vários espaços geográficos e congregou em seu redor e em suas páginas figuras notáveis da cultura portuguesa. ________________________________________________________________________ (1) Servo, Amador Anjos, Oficinas de S. José, os Salesianos em Lisboa, Lisboa, 1999. (2) A beatificação de D. Bosco aconteceu em 2 de junho de 1929. No dia 1 de abril de 1934 foi proclamado santo. (3) Boletim Salesiano, Orgão dos cooperadores salesianos, Janeiro – Fevereiro, Anno XXVII, N.º 1 – 1930. (4) Boletim Salesiano, Orgão dos cooperadores salesianos, Maio – Junho, Anno XXVII, N.º 3 – 1930. (5) Boletim Salesiano, Orgão dos cooperadores salesianos, Março – Abril, Anno XXVII, N.º 2 – 1930. (6) Boletim Salesiano, Orgão dos cooperadores salesianos, Maio – Junho, Anno XXVII, N.º 3 – 1930. (7) Boletim Salesiano, Orgão dos cooperadores salesianos, Maio – Junho, Anno XXVII, N.º 3 – 1930. (8) Ibidem. (9) Boletim Salesiano, Orgão dos cooperadores salesianos, Julho – Agosto – Anno XXVII, N.º 4 – 1930. (10) Boletim Salesiano, Orgão dos cooperadores salesianos, Maio – Junho, Anno XXVII, N.º 3 – 1930. (11) Ibidem. (12) Ibid. (13) Em 1946, D. Bosco foi declarado patrono dos editores católicos.