Pavilhão de marcenaria e com maquinaria própria

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Frederico Pimenta A notícia do pavilhão Pedro Gomes da Silva surge na página 13 do Diário de Lisboa de quarta-feira, 11 de dezembro de 1935 […]. O texto da notícia está ilustrado com duas fotografias […] com as seguintes legendas “Professores e externos das oficinas de S. José em formatura no claustro, junto ao parque onde os garotos praticam exercícios físicos e têm o seu recreio” e “Secção tipográfica das Oficinas de S. José, onde se executam trabalhos perfeitos e fazem aprendizagem futuros tipógrafos e chefes.” “O legado do benemérito Pedro Gomes da Silva (…) permitiu construir mais um pavilhão de marcenaria e com maquinaria própria.” Linhas convergentes ________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. 1936 – Marcenaria – Pavilhão Pedro Gomes da Silva A notícia (1) do pavilhão Pedro Gomes da Silva surge na página 13 do Diário de Lisboa de quarta-feira, 11 de dezembro de 1935, tendo sido transcrita para o Boletim Salesiano (2) num artigo sobre “O elogio da obra educadora das Oficinas de S. José (…)”. (3) O texto da notícia está ilustrado com duas fotografias, que o espaço disponível para este escrito não permite reproduzir, com as seguintes legendas “Professores e externos das oficinas de S. José em formatura no claustro, junto ao parque onde os garotos praticam exercícios físicos e têm o seu recreio” e “Secção tipográfica das Oficinas de S. José, onde se executam trabalhos perfeitos e fazem aprendizagem futuros tipógrafos e chefes.” As numerosas informações esculpidas neste artigo do órgão de informação tornam-no num precioso documento sobre a história da presença salesiana em Portugal, em particular em Lisboa. Um parágrafo é suficiente para a introdução do tema deste grafado semanal, abordando a inauguração de nova edificação “(…) a qual seria baptizada com o nome de «Pavilhão Pedro Gomes da Silva»”. (4) Como acontece na contemporaneidade, a preocupação pela criação de condições de trabalho e aprendizagem dos alunos sempre foi apanágio da obra salesiana. Em 1936, reforçam as condições existentes com um novo espaço de ensino para “(…) 175 internos, 60 dos quais estudam nas suas escolas e 115 aprendem e trabalham nas oficinas além de 180 externos que ali recebem educação, (…) e do Estoril, semi-internato de 120 garotinhos, que constituem o viveiro das Oficinas (…)”. (5) As dificuldades habituais dos custos destas empreitadas só eram exequíveis com o contributo de benfeitores que se dispunham a suportar tais encargos. A nomeação e os contributos eram partilhados pela comunidade, num movimento caro aos Salesianos. Assim ficamos a saber que “O legado do benemérito Pedro Gomes da Silva – duzentos e cincoenta contos – permitiu construir mais um pavilhão de marcenaria e com maquinaria própria.” (6) A inauguração oficial teve lugar a 19 de março de 1936. O pavilhão encontrava-se identificado pelo seu ofício respetivo tendo abaixo uma placa ostentando os dizeres: Pavilhão / Pedro Gomes da Silva / MCMXXXV. Esta inauguração, distanciada no tempo e em contextualização individualizada, remete-nos para os anos de 1890 e seguintes, aquando da instauração das oficinas de marcenaria e sapataria na então zona da Lapa, com o material e maquinaria resultantes da doação do Patronato de S. Vicente de Fora que fora extinto nestas mesmas datas. Também este movimento permitiu a concretização dos objetivos dos responsáveis salesianos da altura a par com a disponibilidade de personalidades que conciliaram o seu tempo para colaborar na obra emergente. (7) Do Pe. José Maria Coelho (8) arrecadamos, com a sua exatidão, caligrafia aprumada e escrita clara dos acontecimentos, a descrição que, apesar de extensa, é de grande riqueza histórica: No ano de 1935/36 assume o cargo de Director das Oficinas, acumula com o de Visitador, o Ver. Pe. Carrá. – No ano de 1936, na festa de S. José, é solenemente inaugurado, como o Boletim Salesiano (Maio-Junho – 1936, relatou, o pavilhão “Pedro Gomes da Silva”, em que fica instalada a Marcenaria, e que foi custeado com o legado dêsse benemérito, conforme autorização superior, concedida em Agosto de 1934. Assistiu S. Emª. O Sr. Cardial Patriarca, o representante do Sr. Ministrio da Educação Nacional, a Sr.ª Duquesa de Palmela, com a Direcção da “Associação Protectora das Oficinas”, e o Snr. Marquês do Faial, que foi o Paraninfo. O Pe. Hermenegildo Carrá, aludido na transcrição anterior, nasceu no ano de 1888 e faleceu em 1969 na Itália. Desenvolveu uma parte significativa da sua atividade no Brasil até 1935, “Nesta altura é chamado a dirigir as casas salesianas de Portugal, que formavam então uma visitadoria (…) “. (9) O projeto das Oficinas de S. José possuía uma planta original, traçada por Mario Ceradini, que foi desenvolvida no local denominado Prazeres e que se impôs na estrutura da urbe lisboeta. Implícita à importância da obra do pavilhão inaugurado, apegamo-nos a este fator para notarmos o sobressair de alguma mágoa também pela sua edificação afastada dos planos arquitetónicos “(…) ou planta geral, traçado pelo arquitecto Ceradini”. (10) Subjaz a ideia de uma construção sem harmonia e totalmente afastada dos planos iniciais. A instalação da marcenaria neste novo local permitiu a desocupação e modernização de outros espaços aproveitados para melhorar os ambientes das aprendizagens e, em geral, das instalações. Este facto demonstrou, uma vez mais, o cuidado mantido ao longo das diferentes conjunturas pelos Salesianos, na qualidade do exercício educativo. Esta edificação teve mais dois momentos de ampliação nas décadas de 40 e 90 do século anterior, que a remeteram, em especial nesta última década, para o edificado existente atualmente. __________________________________________________________________ (1) “Como funcionam as Oficinas de S. José que carecem de auxilio para cumprir a sua missão.” In Diário de Lisboa, 11 de Dezembro de 1935, p. 13. (2) Boletim Salesiano, Órgão dos cooperadores salesianos, Ano XXXIII – Num. 2, Março Abril, 1936. (3) Diário de Lisboa, 11 de dezembro de 1935. (4) Anjos, Amador, Oficinas de S. José – os Salesianos em Lisboa, Lisboa, 1999, p. 173. (5) Diário de Lisboa, 11 de dezembro de 1935. (6) Ibidem. (7) Anjos, Amador, Oficinas de S. José, os Salesianos em Lisboa, Lisboa, 1999, p.21. (8) Coelho, José Maria, Crónica – Oficinas de S. José – 1896. (9) Anjos, Amador, Centenário da obra salesiana em Portugal – 1894-1994, Lisboa, 1995. (10) Pe. Luís Maffini, “Oficinas de S. José. Apontamentos para a crónica da casa (1931-1934)” in Anjos, Amador, Oficinas de S. José – os Salesianos em Lisboa, Lisboa, 1999.