Poemas da Flôr Filgueiras

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Poema sobre a Língua Portuguesa

Rouca e amarga Língua 
Que sozinha é maresia
Que acompanhada é poesia

Língua que batiza
A Paixão
O Crime 
O Desespero
E a vida esplêndida e feroz

Que é corpo à alma
De poetas exilados
De massas irrequietas
E de naturezas bravias

Poema sobre a pandemia 

Janelas decoradas da lentidão dos corpos adormecidos 
Sobre as ruas calcetadas de cimento e lágrimas 

Inclinada na janela 
Foco-me perdidamente 
Nos calceteiros 
E não me volto a encontrar 

O profano som de roxidão 
De uma betoneira que não cessa 
E dos que não sentem a doce monotonia dos que olham para eles de cima

Uma casa num subúrbio feita de bravura aterradora
Deixa para trás rostos amansados de forçada aceitação
E o pecaminoso som de uma reportagem 
Que promete falar de infelicidade 
Ignorando a terrível distopia dos que partem 
Para calcetar uma rua onde nunca viverão

(a ausência de pontuação é uma escolha da autora)

Flôr Filgueiras | 11.ºH1