que ajude a beber e a comer

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“A partir de uma certa idade da sua história, a ciência deve responder pelo seu rosto, pela beleza que representa e produz. Renuncio ao saber na sua forma atual, porque ele desfeia homens e coisas, porque envelhece mal e não conseguiu formar os nossos filhos.” “Drogado de saber? Gosto que o saber faça viver, cultive, gosto de fazer dele carne e casa, que ajude a beber e a comer, a caminhar lentamente, amar, morrer, por vezes renascer, gosto de dormir entre os seus lençóis, que ele não me seja exterior. Ora ele perdeu este valor vital; é preciso curarmo-nos do saber. Cortado em pedaços miúdos, aparentemente novo em cada bocado absorvido, depressa monótono, depressa antiquado, passando rápido, e mais em Inflação que em verdadeiro crescimento, o saber contido nas teses, nos artigos, nas revistas científicas, tomou a mesma forma da informação despejada pelos jornais, escritos, falados ou visuais, pelo conjunto dos media, ou que um maço de notas ou um maço de cigarros, dividido em unidades, cedo classificadas no banco de dados, codificadas. [ … ] O saber sensato cura e forma o corpo, embeleza. Quanto mais presto atenção e procuro, mais penso. Penso, logo sou belo. O mundo é belo, logo penso. O saber não pode dispensar a beleza. Procuro uma ciência bela. A partir de uma certa idade da sua história, a ciência deve responder pelo seu rosto, pela beleza que representa e produz. Renuncio ao saber na sua forma atual, porque ele desfeia homens e coisas, porque envelhece mal e não conseguiu formar os nossos filhos. Traz consigo fealdade e morte, a máscara retorcida da tragédia. A partir de uma certa Idade, a ciência deve ser a resposta das crianças. Sal o sábio, eis a criança.” Serres, M., (1985). Les clnq sens. Paris: Grasset. (pp.110-112)