| Queres um cafezinho e uma bolacha? |

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| Queres um cafezinho e uma bolacha? |Ensinaram-me que à mesa se conversa, se tem os diálogos em família e se tomam decisões ao mais alto nível.

Ensinaram-me que se criam as maiores amizades, se celebram amores e se definem os destinos de nações.

Recentemente o padre Tolentino Mendonça reiterou isso mesmo no “Elogio da sede” referindo que nos juntamos à mesa para nos alimentarmos de um alimento invisível: o da relação.

Ontem falei com a minha mãe que me mandou comer. “Tu come, filha! Ainda que pouquinho, come!”. E eu comi, que também me ensinaram a obedecer aos mais velhos. Para ela, tudo se resume a um belo prato de comida: tens gripe, come (muita) fruta. Estás triste, vai um bocadinho de fogaça de Santa Maria da Feira. Sentes-te cansada, nada como uma belas tripas à moda do Porto. Tens saudades de alguém, come um molete quentinho acabado de sair de um qualquer pão quente.

É curioso como os mais velhos sabem tudo. Bom, ainda que não tudo, sabem tanto…

E sabem principalmente desta coisa dos afetos, da comida e da relação. Nos últimos meses vejo o amor a chegar em forma de comida e de bebida: bifes a horas improváveis; Chilis nunca antes provados mas que chegam de mãos abençoadas; pastéis de nata dados à porta de uma sala de aula e entregues como se de uma joia se tratasse (e tratava!); chás com scones acabados de sair; bolo de banana com uma farinha (com glúten e tudo) que sussurrou ao meu ouvido “gosto de ti”…assim baixinho, pequenino, quase em surdina. 

Somos o que comemos. Somos o que bebemos. Somos essencialmente formados e suportados por esta coisa a que se chama afeto, amor, doçura, amizade e entrega.

Entrega.

Queres um cafezinho e uma bolacha? 

Mónica Henriques | Professora