| Retenção – 4 ideias |

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| Retenção – 4 ideias |Primeira ideia: Portugal tem um número muito elevado de alunos a chumbar, todos os anos, com particular incidência nos primeiros anos de escolaridade de cada ciclo de ensino. O perfil socioeconómico dos alunos, sendo um indicador para estimar o desempenho escolar, está fortemente relacionado com a reprovação: são os alunos mais pobres e com pais menos escolarizados que maior probabilidade têm de reprovar. Olhando aos padrões europeus, Portugal é um dos países onde mais alunos são retidos ao longo do seu percurso escolar e está a milhas de distância do pelotão europeu. Ou seja, as elevadas taxas de reprovação de alunos é sobretudo uma característica do sistema educativo português.

Segunda ideia: a retenção de alunos é geralmente ineficaz para a promoção das suas aprendizagens. Ou seja, em média, chumbar não ajuda os alunos a aprender e recuperar o atraso que têm face aos colegas que transitaram de ano escolar. Em média, note-se: há sempre casos em que a medida poderá ser eficaz e necessária. Ora, se é, em média, uma medida ineficaz para as aprendizagens, é também uma medida praticada de forma recorrente, desviando para aí fundos públicos que são mal empregues.

Terceira ideia: não existem soluções mágicas, tal como a abolição das reprovações e optar por passagens administrativas. Baixar a exigência do ensino ou abolir avaliações externas só para passar alunos é uma opção irrealista e contraproducente. Qualquer solução para este problema das retenções escolares tem de ser direcionada para a qualidade das aprendizagens, garantindo mais e melhor apoio aos alunos que manifestem dificuldades. Isso terá custos orçamentais, inevitavelmente. Mas também há elevados custos orçamentais com a retenção escolar.

Quarta ideia: faça-se o que se fizer no domínio das políticas públicas, a primeira prioridade passa por combater a cultura de retenção que se instituiu entre os professores e diretores escolares. Perante um aluno com dificuldades, a opção mais simples é deixá-lo para trás (retenção). A opção desejável é haver um investimento reforçado nesse aluno. Mas isso representa mais trabalho e mais dedicação e requer mais condições para prestar apoio aos alunos. Ora, atualmente, o sistema não gera incentivos aos professores para que sintam essa responsabilidade.

Alexandre Homem Cristo