“O ponto para mim não é a retenção ou não retenção, mas definir estratégias de acompanhamento que nalguns casos podem implicar que aquele menino ou aquela menina tenha que aprender um conjunto de coisas, antes, sermos capazes da diferenciação pedagógica. Se não formos capazes disso vamos ficar encerrados num debate e dicotomia a favor ou contra”, declarou o ex-reitor da Universidade de Lisboa.
Sampaio da Nóvoa respondia a uma questão colocada por um professor, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, na sequência de uma conferência intitulada “Como Será́ a Escola dos Nossos Netos?”, promovida pela secretaria regional da Educação e Cultura dos Açores.
O antigo consultor para a Educação do Presidente da República Jorge Sampaio, considerou que os argumentos da ambas as partes “são fortíssimos”, sendo que a argumentação dos que são a favor da retenção dos alunos é “óbvia e absolutamente inevitável”, partindo-se do pressuposto que se o aluno não aprendeu “não se vai passá-lo para outra coisa a seguir, tendo que cumprir aquela fase”.
Sampaio da Nóvoa referiu que o argumento dos que são contra “é igualmente óbvio”, havendo “dezenas de anos sobre isso, e nunca a retenção de um aluno resolveu nenhum problema”, sendo que a tendência de um aluno nestas circunstâncias é que “seja ainda mais vezes retido, consagrando-se uma espécie de carreira de insucesso”.
“Não há́ exemplo, historicamente, que aponte que isso resolveu algum verdadeiro problema na escola”, alegando-se, por parte dos que são contra a retenção, que os considerados melhores sistemas educativos do mundo (como a Finlândia) não têm retenção”, afirmou.
O antigo candidato a Presidente da República, em 2015, declara que sempre que é confrontado com uma dicotomia refere que “nada se resolve na educação por essa via”, mas sim através de uma “terceira margem do rio”, citando João Guimarães Rosa, não adiantando estar num lado a “disparar contra o outro”.
Para Sampaio da Nóvoa, a terceira margem do rio, neste caso específico, é “valorizar o acompanhamento personalizado desde a primeira dificuldade”, sendo que a questão para o docente “não é a retenção ou não retenção, mas definir estratégias de acompanhamento”.
O orador deixou a mensagem sobre o futuro do ensino, face a fenómenos como o digital ou inteligência artificial, para além dos estudiosos do cérebro, que “o provável é a desintegração da escola” dentro de 20 ou 30 anos, mas “o improvável, mas possível, é a sua metamorfose”.