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inclusão
“Se tudo se fez para que o deserto crescesse como deserto, que sentido faz esperar que nele floresçam rosas?” (Azevedo, 2011: 238) Esta frase tem sido minha companheira. Importa acordar profissionais adormecidos no conforto desconfortante da estagnação e do conformismo, quebrar o isolamento, abrir novas possibilidades, criar novas soluções pedagógicas, desenhar novas soluções organizacionais, semear encanto e desafio, despertar a vida que mora dentro da escola. Da nossa escola.

Num tempo em que predomina a ética meritocrática, assiste-se nas escolas a uma falsa igualdade de oportunidades, ancorada desde 2009 num percurso escolar de 12 anos de frequência obrigatória, geradora de elevados níveis de insucesso. O acesso massificado à educação teve como consequência a abertura das portas da escola à diversidade, “respondendo à heterogeneidade com uma uniformidade de processos pedagógicos e organizacionais” (Cabral, 2014:18). Vem-me à memória a história da educação especial contada por José Afonso Baptista em seis palavras: exclusão, segregação, institucionalização, normalização, integração e inclusão (Baptista, 2008:175). Curiosamente, a escola, tantas vezes disfarça a exclusão debaixo da capa da inclusão. A escola exclui, incluindo ou, dito de outra forma “ensinando a todos como se fossem um só” (Barroso, 2005:47).

Combatendo a ideia de que os programas que visam combater o insucesso escolar devem centrar-se nos alunos com dificuldades, nos Salesianos de Lisboa preocupamo-nos com a promoção do sucesso escolar de todos os alunos. Para isso temos vindo serenamente a introduzir dispositivos de mudança na organização das turmas e na articulação dos professores, promovendo o desenvolvimento de práticas reflexivas e de estratégias de diferenciação. Este é o caminho para aproveitarmos do potencial de cada um dos filhos que nos foram confiados.

José Morais