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Madalena Ruivo e Iolanda Batista Mil vezes adeus, de Jonh Green, foi o livro escolhido para encerrar este ciclo de partilha de textos de apreciação crítica realizados pelos nossos alunos do secundário no segundo período e, de certo, não haveria melhor título para fechar este ano, uma vez que, com o término das aulas, encerra também a nossa colaboração […] Poderíamos despedir-nos com um “adeus”, mas preferimos um “até já”, esperando que tenham apreciado tanto como nós os trabalhos destes nossos alunos que, tantas vezes, nos conseguem surpreender. Mil vezes adeus , de Jonh Green, foi o livro escolhido para encerrar este ciclo de partilha de textos de apreciação crítica realizados pelos nossos alunos do secundário no segundo período e, decerto, não haveria melhor título para fechar este ano, uma vez que, com o término das aulas, encerra também a nossa colaboração. Assim, ao longo destas semanas, foram várias as reflexões, às vezes profundas para alunos tão jovens, sobre livros que ou integram a lista de obras imortais ou estão a dar que falar no nosso tempo. Contudo, o objetivo que nos moveu foi, além de dar a conhecer textos bem escritos dos nossos alunos, despertar, na comunidade, a lembrança de um título marcante ou, talvez, o bichinho da curiosidade e a vontade de ler a obra. Poderíamos despedir-nos com um “adeus”, mas preferimos um “até já”, esperando que tenham apreciado tanto como nós os trabalhos destes nossos alunos que, tantas vezes, nos conseguem surpreender. Iolanda Batista| Coordenadora do Departamento de Português A obra de John Green, Mil Vezes Adeus , é mais um fantástico romance dirigido a jovens adultos, mas apto para todas as idades. Na verdade, é um livro que, desde logo, alcança o seu público por ser sentimental, ocasionalmente clichê e por passar por quase todos os temas da ficção adolescente: desde um narrador adolescente problemático, ao interesse amoroso, a adultos que não entendem, entre outros. Mil vezes Adeus é, assim, a confirmação de John Green enquanto um excecional narrador da vida dos adolescentes modernos. O livro gira muito à volta da história de Aza, uma jovem de 16 anos, numa tentativa de partilhar os dramas da doença que a afeta desde a infância. No entanto, a história começa com o desaparecimento do bilionário Russell Picket, a oferta de 100 mil dólares a quem der informações sobre o seu paradeiro, e a investigação por parte das amigas Aza e Daisy, até porque o filho mais velho de Russell, Davis, é conhecido de Aza. Mas, fica claro, desde logo, que o foco principal do autor não é o mistério – são as amizades e interesses amorosos adolescentes e, talvez acima de tudo, a saúde mental de Aza que sofre com pensamentos invasivos que giram em torno do medo de bactérias e infeções. Neste sentido, o autor consegue perfeitamente captar a atenção dos leitores, levando-os a acompanhar a vida de adolescentes acabados, em baixo, incapazes de ver a luz ao fim do túnel. Em primeiro lugar, é muito cativante como a obra retrata com precisão e detalhe a doença que Aza tem, uma doença muito comum na sociedade, mas que é pouco falada. Aza é uma personagem complexa e bem desenvolvida, que é afetada por um Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e ansiedade o que interfere em vários aspetos da sua vida, incluindo a sua amizade com Daisy e o seu relacionamento com Davis. Por exemplo, é através da apresentação, pela própria protagonista, de pensamentos intrusivos, de factos e números, tais como o número de micróbios trocados em cada beijo, que o autor vai abordando de forma objetiva e informativa esta doença. O livro mostra, assim, muito fielmente a forma como o TOC pode afetar o pensamento e o comportamento de um paciente, e como isso interfere com o seu dia a dia. Em segundo lugar, outro aspeto muito bem conseguido pelo autor é a emoção com que a descoberta do mistério é narrada, apesar de não ser esse o foco principal. Na verdade, as novas pistas e reviravoltas constantes e as situações perigosas em conjunto com a simplicidade com que John Green relata a história são determinantes para quem lê ficar preso ao livro. Na hora de envolver os espectadores, é muito importante conseguir estabelecer relações entre o que as personagens estão a viver e os mesmos. E é o que acontece, os leitores sentem claramente, e ao longo de toda a obra, a ansiedade e a inquietação que as personagens experimentam aquando da resolução do desaparecimento. Tal sobressai em algumas situações como quando entram no barco à procura de pistas e, sem querer, disparam uma arma de brincar, alertando a tripulação para a sua presença. Acaba por ser de tal forma envolvente que é como se se estivesse lá a observar tudo e a sentir na própria pele o que eles sentiam. Em suma, Mil Vezes Adeus de John Green é um livro extremamente interessante pela forma como aborda a doença mental, mantendo a emoção e expectativa constantes em toda a resolução do mistério. Depois, a presença desta temática tão preocupante e, apesar de comum, tabu na sociedade, reforça a genialidade do autor, uma vez que é tratada de forma muito realista. Madalena Ruivo | 12 T5