| Teatro – 12.º ano |

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“Sábio é aquele que se contenta com o espetáculo do mundo” …Será?

“(…) Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas de barro, (…). Um barco escuro sobe o fluxo soturno, é o Highland Brigade que vem atracar ao cais de Alcântara”. É assim que abre o romance de José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, é assim que se inicia a nossa peça de teatro…. A sala está mergulhada no silêncio e na penumbra, ecoa o som do navio que, atracando em Lisboa, deixa na cidade um visitante misterioso… É Ricardo Reis, personagem de livros, heterónimo de Fernando Pessoa, que de mala na mão revisita a cidade deixada para atrás há dezasseis anos….

Ricardo Reis vem hospedar-se no Hotel Bragança, residencial tão querida a Eça, e com ele vamos conhecendo Portugal e o mundo envoltos, nestes anos de 1935/36, numa escuridão tão intensa quanto a que baixou sobre Lisboa…. 1936 é o ano da serpente, um ano decisivo para a história pelos acontecimentos fatais que conduziram à Segunda Guerra Mundial. Portugal vive os primeiros anos do Estado Novo, sendo governado por um homem, como diz o pai de Marcenda, que tem “uma mão de ferro calçada com uma luva de veludo.” ….

Espetadores deste cenário, vemos desfilar diante dos nossos olhos imagens de jornais e vídeos de uma outra realidade e vamos, como o próprio autor do romance, avaliando se Ricardo Reis, o estoico, conseguirá manter-se indiferente a todo este cenário. Afinal, “Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo!”.…

Mas, se a ação da peça nos envolve com a teia de relações que se vai estabelecendo entre as personagens – Marcenda, Lídia, Ricardo Reis, Salvador e Vítor -, a verdade é que a figura que mais nos encanta é Fernando Pessoa, personagem tão fictícia quanto Reis que ainda presente no mundo guia o visitante e o espetador numa história que tem tanto de real como de fantástica….

Foi assim a manhã dos alunos de 12º ano! Uma manhã em que se recordou a obra a estudar, em que se avaliou a capacidade de o teatro, enquanto arte encantatória, subverter a obra literária. Uma manhã de risos e aprendizagens que, esperamos, tenha servido para encantar e cativar os mais resistentes à leitura da mesma….

Iolanda Batista | Professora de português


Na passada quinta feira, nós, alunos do 12º ano, assistimos à representação teatral da obra O Ano da Morte de Ricardo Reis da autoria de José Saramago, no teatro A Barraca, localizado em Santos. 

Efetivamente, a visualização da dramatização desta obra de leitura obrigatória, apesar de ser distinta da versão em prosa, foi uma ótima maneira de motivar aqueles de nós que ainda não acabaram de ler o livro a fazê-lo, dado que foi construída de forma a poder ser entendida também por aqueles que não conhecem integralmente a obra original. No entanto, a peça não se tornou desinteressante para quem já tinha lido o livro: pelo contrário, surpreendeu-nos pela sua vertente cómica, capaz de reter a atenção de qualquer um. Neste sentido, é de referir em particular a personagem de Fernando Pessoa que assumiu, nesta adaptação para texto dramático, um papel extremamente divertido e até irreverente, que contrastou com a faceta permanentemente sombria que lhe foi atribuída no livro. 

Além disso, é de salientar que a interação constante dos atores com a plateia foi uma forma engenhosa de nos manter focados na representação. Por fim, é ainda de destacar o trabalho fenomenal dos atores e a sua caracterização, na medida em que foi imediata a identificação deles com as personagens do livro.

É, sem dúvida, uma visita de estudo a repetir nos próximos anos!

Leonor Carvalho e Madalena Andrade | 12.º T1