Tempo para a Tarefa

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O tempo para a tarefa é um conceito que se modificou radicalmente à luz da nova investigação sobre o cérebro. Tradicionalmente, os alunos que prestavam atenção por longos períodos eram considerados os “bons” alunos. Agora descobrimos que o cérebro humano não está de todo concebido para longos períodos de atenção. Provavelmente, esses “bons” alunos eram apenas bons atores que pareciam prestar atenção constantemente. A verdade é que provavelmente as suas mentes divagavam, pelo menos, de 20 em 20 minutos. Algumas das expectativas dos professores sobre a duração do tempo para a tarefa dos alunos têm sido desadequadas e pouco realistas. Lembro-me de escutar a regra, num curso sobre o desenvolvimento na primeira infância, de que o intervalo de atenção de uma criança não é mais longo em minutos do que a sua idade em anos, portanto uma criança de cinco anos pode prestar atenção concentrada numa tarefa por não mais de 5 minutos. Pensei que isto fosse um exagero – até ao meu primeiro emprego numa escola pré-primária. A regra acertava em cheio! Alguns anos mais tarde, quando passei para um lugar de professora do 7ºano esperava que os alunos fossem muito mais atentos do que os da pré-primária. Estava enganada. A minha conclusão não-científica rapidamente se transformou em que os alunos do 7ºano remontam aos períodos de atenção dos alunos de cinco anos a menos que o tópico seja moda, raparigas ou rapazes, ou músicos giros. As crianças, e o mesmo se aplica também aos adultos, não podem manter as suas mentes inteiramente focadas num item ou conceito durante o tempo todo que os professores desejarem ou acreditarem ser possível. Estudos demonstram que os adultos, no seu local de trabalho, necessitam de intervalos mentais e físicos para aumentar a produtividade, a qualidade e o ânimo. Okogbaa e Shell, na obra The Measurement of Knowledge Worker Fatigue (1986), resumem os estudos afirmando que, como regra geral, os trabalhadores necessitam de intervalos de 5 a 10 minutos em cada uma ou duas horas. A duração e frequência dos intervalos deve estar de acordo com o trabalho a ser feito e as necessidades do trabalhador (Howard, 2000). Estudos sobre os períodos de atenção em crianças e jovens adultos revelam resultados semelhantes, mas ainda mais dramáticos. Os alunos precisam de um intervalo na concentração pelo menos de 20 em 20minutos. A seguir a um período de 20 minutos ou menos, o cérebro desvia naturalmente a atenção quer queiramos quer não (Sousa, 1995). A chave para os professores é assimilar este facto e planear de acordo com ele. Isto não significa que o tópico da aula deva mudar todos os 20 minutos, mas sim o modo como os alunos estão a trabalhá-lo. Por exemplo, um professor está a lecionar há uns bons 15 minutos sobre as invenções do Benjamin Franklin. É provável que o cérebro de muitos alunos tenha passado do escutar o professor para, talvez olhar pela janela, pensar no jogo de futebol de sexta-feira à noite ou para escrever um recado a um amigo. Se o professor passar do discurso expositivo para uma exibição de fotografias das invenções, o cérebro dos alunos poderá mudar juntamente com essa nova tarefa nos 10 a 20 minutos seguintes. Os alunos continuam concentrados nas invenções de Franklin, embora de uma outra forma. Os pensamentos sobre o jogo de futebol não terão muita hipótese de entrar na mente. Como outro exemplo, suponhamos que é pedido aos alunos para lerem silenciosamente durante um período de 30 minutos. A determinada altura, durante esse período de tempo, os seus cérebros passam a pensar em fazer outra coisa. Para evitar pensamentos e comportamentos fora da tarefa, o professor pode interromper e mudar a atividade após 20 minutos. O professor pede à turma para passar os 3 minutos seguintes a discutir o que acabaram de ler com um colega ou a escrever sobre isso num caderno e depois regressarem à leitura silenciosa por mais 10 minutos. O professor permite que os seus cérebros alternem de uma concentração estável na leitura para um novo comportamento, embora os alunos continuem concentrados no texto a ler. E, cá para nós, não é o fim do mundo se os alunos mudarem completamente as suas atenções para um novo tópico por um pequeno período de tempo. Todos nós já mudamos a nossa atenção da tarefa em mãos para o sonhar acordado – espreguice-se ou beba um copo de água. Pode permitir ao cérebro um pequeno intervalo para relaxar e rejuvenescer para uma concentração mais profunda um minuto depois. Eric Jensen, O Cérebro, a Bioquímica e a Aprendizagem. Porto: ASA