Testemunho: No meio do caminho da nossa vida, a Beleza

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Gil Clemente Teixeira

A Beleza consegue, de facto, suavizar o peso dos nossos dias: uma interpretação do “Glória” de Vivaldi, um gesto de compaixão de um motorista da Carris, uma leitura de um passo de um dos sermões de Vieira, um reencontro com alunos do ano anterior numa Padaria Portuguesa, um momento silencioso de oração com amigos de caminho.

Os primeiros dias no Colégio dos Salesianos de Lisboa têm sido, essencialmente, de procura da Beleza. Como algo grande que é, a Beleza tem-se revelado nas coisas mais pequenas: na ajuda sincera oferecida pelos colegas, num riso partilhado enquanto se planifica em conjunto as próximas aulas, na companhia ao almoço de colegas igualmente recém-chegados, na generosidade dos assistentes educativos dos pisos do secundário, numa reunião afável com uma Mãe.

Aos gestos somam-se as palavras: aquelas que se leem nos primeiros textos escritos pelos Alunos, sobretudo as daqueles de quem habitualmente menos se espera e de quem, afinal, muito há a esperar; aquelas das conversas igualmente inesperadas no pátio (“Professor, tenho um amigo que o conhece do Colégio de São Tomás.” ou “Professor, tem de participar no corta-mato dos professores.”), aquelas no final de certas aulas, apenas aparentemente insignificantes (“Professor, desculpe não o ter cumprimentado.”, “Professor, prometo estar mais atento na próxima aula.” ou “Obrigado pela aula, professor.”).

Nas aulas com o 11E3, o 11T2, o 11T6 e o 11A1, a ler Vieira ou a estudar orações subordinadas, a falar sobre os apetites ou a comentar um anúncio publicitário de uma estação de Metro, a olhar para uma pintura de Rubens ou a ouvir Mascagni, a Beleza, felizmente, também se tem manifestado. Numa terra tão corrupta como a nossa (roubo palavras ao Padre Vieira), essa Beleza, procurada e encontrada, ainda pode salvar-nos (a nós e aos Alunos) do desencanto, da tristeza e da falta de sentido que o nosso tempo nos oferece. No lugar da rudeza, da mentira e da fealdade, que mais facilmente se encontram, o exercício de viver este ano letivo tentará nunca esquecer esta pergunta: afinal, onde está a Beleza?

Gil Clemente Teixeira | Professor