Uma data, uma exposição – 1942

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Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

Uma data, uma exposição – 1942

Os momentos expositivos nas Oficinas de S. José (OSJ) albergaram um conjunto de realizações que, sobre um misto do trabalho prático, teórico e religioso, fizeram realçar o Sistema Educativo de D. Bosco. Tal como as aprendizagens de caráter profissional e científico requereram momentos expositivos nas Oficinas de S. José, também o segundo elemento da fórmula “Honestos cidadãos e bons cristãos” se abriu amiúde à sociedade contemporânea, tendo sempre laivos de extrema simpatia no reconhecimento das aprendizagens realizadas pelos alunos. Esses pequenos momentos revelaram vagos pormenores estruturantes e formaram no seu conjunto um robusto e perpétuo alicerce que escorou toda a obra salesiana.

Plasma-se, neste artigo, a essência do momento Exposição de Catecismo, realizado nas OSJ, no mês de junho do ano de 1942. A publicação Dom Bosco (1) relata esse acontecimento, levando então, e historiando hoje, a informação junto dos leitores, da vida salesiana sentida no espaço português.

Os visitantes que se deslocaram às Oficinas de S. José, – “A exposição enche o teatrinho das Oficinas de S. José (…)” – (2) viram e eternizaram, no fio de tinta e no papel recetor, as suas opiniões, testemunhando ainda hoje as vivências coevas. São palavras que elevaram o patamar das observações superiormente adjetivadas no deambular no espaço ocupado pelos trabalhos expostos.

Dos inúmeros visitantes da exposição, 193 assinalaram a sua presença no Livro de Ouro da Exposição de Catecismo, realizada em Lisboa, nas OSJ, e iniciada a 7 de junho, encerrando a 22 do mesmo mês, de 1942. Nele se diz:

“Quanto sabe bem a um crente vêr uma obra d’estas.”

“Parabéns aos executores e aos organizadores. Esta exposição revela deveras muita competência catequística e bom gôsto estético.”

“Excellente iniciativa que merece simpatia de todos os que devem ocupar se da educação em geral e da religiosa em particular.”

“Seriam precisos dias, para se vêr bem esta valorosa, scientífica e experiente Exposição e reconhecer o seu altíssimo significado. Sinceros parabéns aos Ex.mos dirigentes e dirigidos. Que Deus fecunde tão grande obra.”

“Assim se ensina. Avante!.”

“Pedimos as maiores bênçãos do Céu para a Obra linda de S. João Bosco,”

“Exposição Catequística admirável! Obra de luz que ilumina as almas, desperta as consciências e aquece os corações… Louvores a quem em boa hora a concebeu e tão brilhantemente a soube realizar!”

 “A representação gráfica das verdades ensinadas no catecismo revela que nas escolas de D. Bosco se encontrou o caminho para levar a Religião à compreensão das crianças. Felizmente vamo-nos afastando dos tempos em que isso era feito materialmente, curando das formulas e abandonando o intimo, o divino que as formulas encerram. Dessa nova pedagogia é forçoso sair uma juventude mais cheia do espiritual, portanto uma geração melhor”. (3)

A afluência registada obrigou a uma reabertura da exposição: “No dia 4 de Agôsto reabriu, nas Oficinas de S. José, a Exposição Catequística. Ficará aberta até aos fins de setembro e pode ser visitada todos os dias das 15 às 19 horas”. (4)

Os trabalhos foram apreciados e deles destacou-se um “diaporama luminoso” (5) ilustrativo das movimentações geográficas de S. Paulo, que contou com a colaboração dos estudantes de Filosofia, então acolhidos no Estoril.

A presença de S. Ex.ª Rev.ma D. Manuel Trindade Salgueiro, neste instante cronológico Bispo Auxiliar de Lisboa, dignificou o momento reforçado com as refletidas palavras que proferiu: “O certame que estou a assistir, se não passasse dum simples exercício de memória, pouco valor teria; mas esta representação gráfica das verdades que êsses rapazes confiaram à memória valoriza-o imensamente”.  (6)

A publicação Dom Bosco (7) destaca, além de outros, as figuras dos Superiores Salesianos que acarinharam e edificaram este momento alto das OSJ. Alteia as figuras do Superior dos Salesianos em Portugal e do organizador da exposição nas OSJ, respetivamente o Pe. Hermenegildo Carrá e o Pe. Lino Ferreira, que, mais tarde, veio a ser diretor da casa salesiana de Lisboa.

O objetivo da Exposição Catequística foi explanado, como anteriormente indicámos, nas páginas do jornal A Voz e transposto para o Dom Bosco, afirmando-se “(…) é demonstrar como as crianças podem aprender o Catecismo pela imagem e traduzir o seu entendimento, também, pela fórmula gráfica ou ilustrada”. (8)

O espaço do teatro das OSJ transformou-se com o grafismo inerente ao tema. Na entrada da exposição destacavam-se as figuras do Papa e do Cardeal-Patriarca de Lisboa; seguia-se um monumento simbólico, representando a Igreja; os mandamentos, virtudes e os sacramentos desfilavam nesta continuidade; o fundo da exposição rematava com a imagem do “Bom Semeador”, ladeada pelas imagens de Nossa Senhora de Fátima e de Nossa Senhora Auxiliadora. Espaço ainda dedicado à santidade lusa com referência a nomes, ao milagre de Ourique e às aparições de Fátima, subjacentes ao título “Portugal, terra de Santos”.

Há oitenta e dois anos construíam-se, desta forma, os pequenos pormenores que fizeram crescer, no Sistema Educativo de D. Bosco, centenas de jovens que dignificaram as suas vidas e igualmente a sociedade.

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  • Dom Bosco, Órgão das obras salesiana em Portugal, Ano II, Lisboa, n.º 15, 1942.
  • Ibidem.
  • Livro de Ouro da Exposição de Catecismo, realizada em Lisboa, nas OSJ,
  • Dom Bosco, Órgão das obras salesiana em Portugal, Ano II, Lisboa, n.º 16, 1942.
  • Dom Bosco, Órgão das obras salesiana em Portugal, Ano II, Lisboa, n.º 15, 1942.
  • Ibidem.
  • Ibid.
  • Ibid.