Em Abril de 1994, entrei pela primeira vez nas Oficinas de São José, para acompanhar a professora Bibi num ensaio do primeiro projeto de Teatro Musical dos Salesianos, no final da tarde o professor José Morais, no Pátio do 1º Ciclo, fez-me esta pergunta. “Olha, estamos a começar uma escola de música, não queres vir dar aulas para cá?” Poucas horas depois de ter entrado nesta escola, com 21 anos, embarcava numa aventura que não fazia ideia que iria durar um quarto de século!
O projeto era claro e inovador: ser uma escola diferente, uma escola que não exigia pré-requisitos, onde todos tinham lugar e direito a aprender a tocar, a cantar ou dançar independentemente das suas capacidades, uma escola que seria o que nós quiséssemos que ela fosse. Sendo assim, iria ajudar a tornar o Musicentro numa escola que eu gostasse de ter andado e dar aos nossos alunos experiências que eu gostaria de ter vivido enquanto estudante.
Para quem só conhece o Musicentro dos dias de hoje, dificilmente imagina, no espaço do antigo refeitório, quatro salas com paredes de madeira, mas foi assim o início! O crescimento das instalações foi sendo necessário, pois em pouco tempo aquelas quatro salas já não chegavam e as obras tiveram que acompanhar o projeto educativo. A extraordinária visão e a paixão pelo ensino artístico do administrador Orlando Camacho tornaram possível o crescimento do Musicentro até aos dias de hoje, acreditando no projeto e dando sempre condições para o mesmo se afirmar.
Do ano zero do Musicentro, ainda estão connosco os professores Margarida Pimenta, Rosário Miranda e João Ricardo, com eles ocupei também aquelas quatro salas, e recordo com emoção o entusiasmo dos primeiros tempos, as primeiras audições e o nascimento dos primeiros projetos artísticos. Nos anos seguintes, com o crescimento da escola de música, chegavam outros colegas que ainda hoje ensinam no Musicentro, ajudando a criar um ambiente familiar e de confiança para os novos alunos que vão chegando todos os anos, “a forma autêntica, entusiástica e quotidiana como os Professores do Musicentro transportam para o ensino a afetividade e a dimensão que a música tem nas suas vidas foi uma das razões que me levaram inscrever o meu filho nesta escola”, estas palavras da compositora Mafalda Veiga são espelho disso mesmo.
Mais do que tudo que ensinei nestes 25 anos a centenas de alunos, guardo de maneira especial tudo o que aprendi. Ter assistido ao despontar do talento da Luisa Sobral, do Salvador, do Guilherme Marinho (Áurea), do João Barbosa (Mafalda Veiga, Anselmo Ralph), do Angelo Freire, e tantos outros, foi um privilégio. Com todos eles me lembro de saber em determinado momento e com toda a certeza que tinha à minha frente um talento especial, esse momento foi e é sempre mágico. Com todos eles aprendi. Alguns deles são hoje professores no Musicentro como é o caso da Luísa Sobral e do Guilherme Marinho.
Naquela tarde em Abril eu poderia não ter ido ao ensaio nas “Oficinas de São José”, podia não ter levado a guitarra, o professor Morais podia não me ter ouvido a tocar, podia não me ter feito aquela pergunta, podia…mas não seria a mesma coisa…pelo menos para mim.
Hoje, tenho a certeza que a determinação e capacidade de reinvenção que ajudou a percorrer o caminho até aos dias de hoje e a contínua aposta na formação dos nossos alunos, tanto a nível humano como artístico, irá continuar ajudar a formar grandes músicos mas também excelentes pessoas porque o Musicentro dos Salesianos de Lisboa é mais do que uma escola de música, é diferente, é uma escola de música Salesiana.
Luís Peleira | Direção do Musicentro