Uma maravilha chamada… VIDA!
Na passada quarta-feira, dia 15, realizou-se pelas 10:30 h, no auditório 1, o “Bom Dia” do 11.ºE3.
O tema: Uma maravilha chamada… VIDA!
A convidada: Marta d’Orey.
O cenário: um sofá, almofadas, balões e muito calor humano.
O argumento: a essência da vida.
A história:
Escrever sobre a Marta não é fácil… Todas as palavras juntas serão manifestamente insuficientes para descrever a grandiosidade do seu ser.
A Marta é uma ex-aluna da nossa escola, que completou 20 anos de idade há poucos dias. Gosta de escrever, fotografar, ver o mar e comer gelados. No entanto, há uns meses atrás, ainda com 19 anos, foi-lhe detetada uma doença rara e incapacitante que destrói os pulmões: bronquiolite obliterante pós-infecciosa.
Pelas 22:36h, do dia 16 de novembro, deu entrada na caixa do Messenger a seguinte mensagem escrita pela Marta: “(…) a coisa está num estado muito grave. Por isso, em princípio vou fazer um transplante dos dois pulmões.
Mas, ainda temos uma possibilidade de tratamento pela frente. Por isso, vamos lá à luta a ver se me safo desta! E mesmo que não seja como quero, vai ser como tem de ser, exatamente à medida que eu sei que aguento! Isto de levar tanta pancada, tornou-me tão maior…
“Tenho a enorme vantagem de saber que nada dura para sempre, e tenho inteligência suficiente para saber que não escolhemos se estamos aqui, mas sim, como estamos. Eu escolho estar viva todos os dias, escolho ver o mar e comer gelados. E a vida corre tão bem assim!”
Nos últimos meses, a Marta tornou-se um estudo de caso para muitos médicos. No entanto, apesar dos vários exames a que tem sido sujeita, aos períodos de internamento, a uma vida “presa por um fio”, a Marta consegue surpreender-nos com uma energia vibrante e o sorriso mais doce.
De acordo com a Marta, muitas foram as vezes em que se deitou “naquela sala de luz fluorescente e cheiro a éter, com os lábios tingidos de azul, a pele encharcada em suor e lágrimas, a respiração ofegante por se fazer suficiente, os sentidos” a fugirem-lhe entre os dedos e com os médicos à volta do seu “corpo inerte numa tentativa de o trazer de volta”. Como acordava a Marta no dia seguinte? Com um sorriso no rosto! Foi assim que a encontrei, num final de tarde na CUF Infante Santo. A descrição da Marta do que vivia ficou-me gravada na memória: “Professora, está a ver aquela sensação de que se está a afogar, tem pessoas ao seu lado, estende-lhe o braço para que a agarrem e… sente a vida escapar-lhe das mãos, sem que nada mais possam fazer?”.
Na verdade, durante muito tempo, qualquer mensagem recebida da Marta era feita com alegria e esperança, pese embora de coração bem apertadinho. Foi na própria Marta que encontrei a resposta para aprender a lidar com as limitações que a vida nos possa presentear: “Tive medo, porque (…) vi o botão de STOP ao alcance de um palmo. Mas acabei por me encostar no modo PAUSA, para depois voltar a pressionar o PLAY”. Se a Marta deixou de poder fazer 3h de surf, passou a apanhar uma onda e a ir para a areia descansar. Se deixou de poder correr, continua a poder andar. Como a própria refere, tem aprendido a equilibrar a vida à sua medida, “sempre com pés e cabeça, mas sem perder a paixão”.
Nesta quarta-feira, a Marta partilhou que podemos fasear a vida em três momentos: o início esperado, o caminho livre e o fim imprevisível. O caminho livre mereceu a maior atenção de todos, pois é nele que reside a essência da nossa vida, as nossas opções… E a opção da Marta é: escolher como viver! Tem consciência de que nada controla para além da escolha que faz em relação à forma como quer viver todos os dias, não controlando se corre bem ou menos bem, mas controla que o que corre menos bem não lhe faça mal.
Apesar de com 19 anos lhe ser apresentado um diagnóstico de limitação da sua capacidade respiratória (inferior a 15%, sendo o valor mínimo aceitável de 80%), a Marta é uma menina realista, que procura equilibrar os factos com as esperanças.
Num dos momentos de preparação do “Bom Dia” do 11.ºE3, foi favorecido um contacto com a Marta. Após a partilha de um bonito testemunho, pergunta-lhe um aluno: “Acreditas em Deus? Ou sentes que ele…”. Perante a risota de alguns colegas, responde a Marta: “Não riam que a pergunta é pertinente. Quando descobri que tinha esta doença, e percebi a gravidade da mesma, percorri dois caminhos. Um de questionar a razão de acontecer comigo e onde estava Deus nesse momento. Depois percorri outro caminho, aceitando aquilo que me tinha sido reservado e acreditando na sorte de ser eu a ter algo que me faz abrir os olhos todos os dias. Mostrou-me que, a qualquer momento, posso não estar aqui e que tenho de aproveitar já a vida. Tenho a sorte de me poder dar aos outros. Assim, desses dois caminhos que percorri em relação ao sentimento que podia nutrir face à existência de Deus, descobri que um dos caminhos é bem mais confortável que o outro… E foi esse o caminho que escolhi”.
Ainda que muitas vezes a Marta seja apelidada de “furacão”, para mim, é um anticiclone que sabe transformar o menos bom em bom. Que seja apenas um furacão no combate à doença, pois, no resto, esta linda e doce menina só tem energia positiva. É contagiante pelo lado bom. Todos os dias transforma a simples mancha amarela no sol mais radiante e, neste momento, inspira/ilumina muitos de nós.
Sou uma privilegiada por um dia me ter cruzado com esta minha rebelde e doce menina!
Vânia Morais